Não indico pra ninguém viver em uma pandemia.

Eu imaginava que viver em uma pandemia era algo totalmente diferente. Eu achava que teria mais aventura, um quê de filme de ação. Achava que uma doença surgiria e erradicaria com a população inteira quase que do dia pra noite. Que estaríamos todos velhos num futuro apocalíptico estilo Mad Max, tudo cinzento, onde poucos sobreviveriam. Mas eu nunca imaginei o percurso até lá.

O meteoro não extinguiu os dinossauros todos do dia pra noite. Tirando, óbvio, os que estavam ali no alvo. Os pequenos, óbvio, se tornaram pássaros. Foram criando penas, bicos, não tiveram problemas. A galinha que comemos tem como avó distante um dinossauro há milhões de anos. Mas e os grandes? Passaram gerações se esforçando para viver naquele mundo após o impacto do asteróide, tentando propagar gerações, mas chegou um momento que os indivíduos foram rareando. Até o momento em que não havia mais nada que sustentar suas vidas, e não havia outra coisa a não ser morrer.

Hoje eu machuquei meus dois punhos. Meu pai colocou na CNN Brasil, e como ela tem um péssimo áudio, parecia que havia um amplificador na sala. E esse som de tevê ligada poluindo o ambiente me deixa furioso. Eu dei três socos na parede e um tapão. Depois gritei: "Essa televisão desgraçada!!". Agora minhas duas mãos estão inchadas, tudo por conta desse estresse — e da forma que achei para descontar minha raiva.

Acho que ninguém avisou que viver uma pandemia seria algo essencialmente estressante. Isso nenhum filme mostrava. Que esse estresse faria a gente querer socar as paredes de raiva, querer gritar a plenos pulmões, querer qualquer coisa que tire essa imensa angústia da incerteza que está na nossa frente. Mesmo que minha vida antes não fosse lá essas coisas, eu sinto falta de como era antes. Ao menos havia possibilidades.

Possibilidades de sair com alguma garota. Possibilidades de sentir o vento no rosto sem uma máscara me impedindo. Possibilidade de reconhecer um rosto conhecido na rua. Possibilidade de sair de casa sem medo, sem precisar preocupado se vai coçar os olhos e ficar doente. Possibilidade de ter alguma válvula de escape contra essa mesmice chata e interminável. 

Eu queria poder chorar. Mas eu não choro por qualquer coisa, eu não consigo. Talvez se eu chorasse eu conseguiria jogar tudo pra fora por meio de lágrimas, e não ficar me mutilando, socando a parede, ficando com a mão inchada, sem contar que dificulta muito tudo, não poder tocar em nada, pois a região socada fica sensível. Se eu conseguisse abrir o berreiro, chorar por todo o tempo perdido, todas as vidas ceifadas, todas as notícias ruins, toda a incompetência desse presidente retardado que não faz porra nenhuma.

Daqui a pouco fará um ano disso. E ainda sem sinal de que isso vai terminar ou não. Não era o Chico Pinheiro que se despediu do Bom dia Brasil falando: "Vai passar!".

Pois não passou. Só tem piorado. E parece sem fim.

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