A ida e volta pra casa. Entre árvores e caminhadas.

Ás sete de manhã despertava. O pão de queijo recém saído da padaria quentinho era o desjejum obrigatório. Logo eu pegava o ônibus e chegava na estação de metrô. Chegava do outro lado da cidade, muita gente na rua, e de lá eu caminhava até o trabalho.

Eu adorava aquele caminho. Era cansativo e o calor me fazia suar igual um porco. Estava em março, e o tempo ainda estava quente. As avenidas estavam vazias por conta do contra-fluxo: talvez se encheriam quando todos voltassem para casa. Eu passava por uma travessa linda e toda arborizada, cujo nome era homenagem ao cantor cuja música falava de tudo: do Leme ao Pontal. Ás vezes eu fechava os olhos e descia a ladeira como se fosse puxado gentilmente por ela, era uma sensação de liberdade incrível.

E não havia mesmo nada igual. Casinhas bonitinhas, uma quadra de uma escola onde a molecada já jogava bola, pracinhas de uma árvore só. Eu lembro que eu chegava em uma outra avenida, um pouco mais movimentada cujo caminho me levava a um imóvel estranho, que avançava dentro da rua, com um muro coberto de unha-de-gato. Eu continuava caminhando até chegar no condomínio onde eu estava fazendo um trabalho temporário.

Na saída eu adorava caminhar ali dentro da Vila Madalena. Não era nas ruas dos bares caros, era bem residencial e pacato. Ás vezes eu descia e comia um sanduíche de pernil delicioso num sacolão ali na descida da rua Isabel de Castela.

Numa das voltas foi bem perto do dia do casamento do André, e foi uma correria danada pra sair lá da zona oeste e chegar na zona sul para pegar meu terno alugado para ser padrinho de casamento. Confiei no Google Maps e suas sugestões de transporte público e cheguei no horário certo que previu! Eu lembro que no ônibus o André mandou mensagem dizendo que a madrinha que entraria comigo estaria com um vestido vermelho. E ele perguntou minha altura, e parece que ela se assustou quando ouviu um metro e oitenta e cinco.

Mas nas outras muitas vezes eu pegava um ônibus laranjinha e descia ali na estação Faria Lima, e caminhava até perto do Terminal Pinheiros para pegar o ônibus para o Terminal Jardim Angela. Teve um ou dois dias que eu fiz esse trajeto todo a pé (eu adoro caminhar!). E eu via aquela cidade pulsando, os bares se enchendo, os patinetes (na época que existiam), e aquele povinho estranho, os Faria Limers. Mas na época esse termo ainda não havia sido cunhado.

Foi bem curto, mas não o suficiente para eu detestar a rotina. Duas horas no trânsito pra ir, duas pra voltar, como se isso desse pra mudar. Eu sempre tive o hábito de mudar meus trajetos, ir por lugares que não conhecia, pois o mesmo sempre me entedia. E naqueles quase dois meses de trabalho temporário, foi uma experiência muito boa.

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