A morte de Paulo Gustavo, o presidente genocida, e a vencedora do BBB.

A última terça (dia 4) foi estranhamente movimentada. Teve massacre na creche em Santa Catarina, teve CPI da Covid, final de BBB e a triste morte de Paulo Gustavo. Foi um dia que a gente sente que não acabou, e que deixa uma marca triste da gente.

Dias atrás no grupo do clube do livro, eu tava comentando com uma menina que viver a passagem de 1999 pra 2000 não foi nada fácil: teve medo de fim de mundo, bug do milênio, ameaça de asteróides, foi tudo uma bagunça. E como ela tem quatorze anos, brinquei dizendo que ela também está vendo a história acontecer, vivendo essa maldita pandemia.

Eu lembro que ela brincou dizendo algo do tipo: "Será que as pessoas lembrarão que diziam que a pessoa ia virar jacaré se tomasse a vacina?". E ontem, por curiosidade, comecei a reler o meu livro preferido, "Os miseráveis", do imortal Victor Hugo. Na edição da Martin Claret tem um ótimo texto introdutório com o seguinte trecho sobre a morte do autor: "Há notícia de que cerca de dois milhões de habitantes teriam seguido o seu enterro (ROBB, 2000)". Pra quem não está acostumado com normas bibliográficas, esse "(ROBB, 2000)" é a citação de uma referência bibliográfica, do autor Graham Robb, cujo livro se chama: Victor Hugo, uma biografia.

Dei essa volta pra dizer que sim, talvez os livros de história falarão do calhorda genocida que exerceu o cargo de presidente do Brasil, mas são esses testemunhos mais populares que contarão para as próximas gerações que sim, tivemos um presidente que disse que não ia tomar, que se tomasse a vacina viraria jacaré, isso sem contar que quando teve oportunidade de comprar vacinas, não comprou.

Covid-19, uma doença que existe vacina. Que poderia ter salvo 417 mil vidas, ou evitado grande parte dessas mortes. Uma doença que tem nos obrigado a nos isolar das pessoas que nos são queridas, uma doença que impede a gente de querer sair para ver o céu, uma doença que nos impõe um medo de que podemos nos infectar a cada esquina caso toquemos em algo infectado e coçarmos o olho, nos deixando em situação de constante estresse a cada segundo que temos que sair de casa.

E no meio disso tudo, um dos maiores comediantes do Brasil, na melhor fase da carreira e vida pessoal, um homem casado com o marido que era o amor da sua vida, dois filhos fofos, e que estava lutando contra essa maldita doença há meses.

Fico imaginando quando essas crianças crescerem, verão a si mesmas quando tinham dois anos no colo do pai. E se perguntarão "como será que teria sido se nosso pai estivesse vivo?". Mesmo que talvez nem tenham lembranças do alto de seus dois anos de idade, um buraco em suas almas se abriu. E o que mais machuca é que é um buraco da hipótese de como seria ter crescido com o pai o levando pra escola, os levando para a cama para dormir, os milhões de almoços e jantares que perderam, a puberdade, a adolescência, o primeiro namorado/namorada, a graduação, casamento, filhos e netos.

E por conta de um idiota que foi eleito para a presidência, que por vontade própria não quis comprar vacinas dizendo que os laboratórios "não se responsabilizariam", pois se ele tivesse um cientista ou médico pra lhe assessorar, e não um GENERAL DA ATIVA que não sabia da existência do SUS, o explicaria que os laboratórios não se responsabilizam mesmo, pois é a ANVISA que tem que fazer os testes e aprovar/se responsabilizar pelo uso da vacina no país, e não a Pfizer ou Sinovac.

Um presidente que força o uso de remédios sem eficácia, causando problemas no coração, fígado e rins na população, que não paga auxílio emergencial para a população, que não protege as empresas, que não promove lockdown que funcionou no mundo inteiro, como será que essas crianças filhas do Paulo Gustavo verão o passado (que é o nosso presente?).

Gael e Romeu, não sei se essa mensagem chegará a vocês quando vocês estiverem mais crescidos e puderem ler. Mas o seu pai foi um herói. Seu pai lutou contra todo tipo de discriminação por conta de sua sexualidade e depois de ralar muito, chegou lá. Três filmes de sucesso absoluto no cinema, só pra citar um exemplo. Seu pai nos fez rir, mas acima de tudo nos ensinou a ter esperança. De acreditar que o amor sempre vence, e sempre vencerá. Vocês provavelmente não lembram nada, e é difícil de tentar entender ele por meio das fotos e vídeos. Vocês tinham apenas dois aninhos! Mas para nós, que pudemos ter a chance de ver o trabalho ímpar do seu pai podemos afirmar que nos sentimos privilegiados por termos vivido na mesma época que esse gênio chamado Paulo Gustavo Amaral Monteiro de Barros. E vocês carregam um pedacinho da sua alma para sempre.

Em um momento tão triste, onde perdemos as esperanças como esse, pelo menos tivemos nesse mesmo dia a vitória da Juliette no Big Brother Brasil. Eu assisti quase nada, pra mim a última edição que eu assisti, a da Sabrina Sato foi há no máximo uns três ou quatro anos. Mas eu vi a final, e precisamente o último bloco.

Eu nem tenho ideia de quem era a Juliette Freire, menos ainda o que ela fez ou deixou de fazer no reality show. Mas pra alguém que não assistiu, eu vi naquele discurso do Tiago Leifert que ele dizia que ela era alguém que ouvia as pessoas, que não era vingativa, que mesmo tendo todos os motivos pra ser alguém mal, pelos ataques que sofria, escolheu o oposto, e continuou alegre, sã e boa.

Ainda mais numa época em que tudo é tão polarizado e ela sempre tentava dialogar com as pessoas, ter paciência e perdoar os que a atacavam. E mesmo quando foi posta a prova nunca deixou de ser o que era.

E eu lembro que chorei (hahha, choro até agora) na parte que ela disse que nunca mais estaria sozinha, pois tinha mais de vinte milhões de seguidores nas redes sociais, hahaha. Que ela era um fenômeno, e nem ela tinha noção do quanto era amada aqui do lado de fora, e o quanto de pessoas que ela inspirou.

Como eu disse, a única vez que parei para assistir o BBB foi nesse último bloco do episódio final, e talvez vi um pouquinho da tal Carol Conká (que todo mundo falava) e vi uma retrospectiva um sábado antes pra entender tudo sem precisar passar dois meses assistindo. 

Mas isso significa tanto, sabe? Especialmente num dia como foi aquela terça: em que ficamos horrorizados vendo bebês sendo mortos numa creche em Santa Catarina, a morte de um dos melhores comediantes da atualidade, o reality show mais famoso do país vencido por alguém que pregava tolerância e diálogo, no início de uma CPI que vai trazer justiça para o presidente que cometeu um massacre de proporções históricas na história desse país.

Quem vence o reality show é uma mulher, nordestina, que sofria bullying, perdeu a irmã, que mesmo sendo atacada preferia dialogar, perdoar as pessoas, e era bondosa. Vivendo num país governado por um homem, branco, hétero, paulista, que é movido por ódio, intolerância, e rancor. E que no mesmo dia em que ela comemorava a vitória, a gente perdia um homem, gay, comediante talentoso, no melhor momento da carreira, vivendo com o homem de sua vida, para uma doença que esse mesmo presidente não fez nada para conter.

Como esses símbolos são fortes, cara.
E que os anjos mortos nessa chacina na Santa Catarina nos protejam lá do céu.

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