Cada segundo com você, mesmo que não seja real.

Que cores vivas por todo o local, com suas paredes riscadas por sombras em um céu rosáceo com nuvens branquinhas. Um ambiente com cheiro de chiclete, vielas levemente iluminadas, com escadas e arquitetura Art Nouveau. Nesse local eu caminhava como sem saber para onde iria. Observava as janelas arredondadas com cantos de madeira envernizada, as portas fechadas e poucas pessoas nas ruas.

A temperatura amena. Talvez um pouco frio, pois o frio me faz lembrar de você. Me faz lembrar daquele dia lindo que vivemos há quase dois anos.

E do nada você aparecia, sorrindo ao longe. E eu nem acreditava que era você. Afinal da outra vez foi assim, não é mesmo? Foi muito do nada, com um convite para tomar um café no dia seguinte, em que você estaria aqui em São Paulo. E quando você me viu, e nossos olhos se encontraram, não teve como ficarmos parados: fomos um ao encontro do outro, numa praça aberta, com arranha-céus por todo o lado.

E logo aquele local cinzento e feio se tornava o melhor lugar do mundo. Nossos braços estavam cruzados e andávamos junto. Você encostava a cabeça em mim, e eu só sabia sorrir. Era você mesmo, eu não podia acreditar! E aqueles momentos eram tão raros, eram tão momentâneos. Mas enquanto você estivesse ali, eu queria aproveitar cada segundo. Ouvir cada palavra que dissesse, olhar nos seus olhos até cansar, sentir o calor da sua mão e encontrar a calmaria que só a sua imagem conseguia trazer para o meu coração.

Lembro que entramos em um elevador, e era um elevador estranho, pois nos surpreendemos quando ele chegou até o andar mais baixo e começou a literalmente ir na horizontal, numa velocidade incrível. E do lado de fora você via a cidade toda aparecendo, como se estivéssemos em um trem à alta velocidade.

Eu tenho muito medo de velocidade a altura. Mas com você eu não tinha medo de nada.

O brilho amarelado daquele por-do-sol iluminava o seu rosto, e deixava seu sorriso ainda mais vivo. E ver aquilo era o que eu mais queria na minha vida. Você, ali, na minha frente, não havia dúvidas. O mundo ao nosso redor poderia explodir, acabar. Tudo isso não importava. O que importava é que eu me sentia completo e feliz, e tudo aquilo eu queria guardar como um tesouro, como a mais preciosa das joias, pois eu não queria imaginar quando terminaria. Viver a vida ao seu lado, mesmo que fosse naquele ínfimo pedaço de tempo perdido nas nossas vidas. Eu queria gravar na minha memória com caneta bem forte, para que nunca se apagasse, e ficasse tudo dentro do meu coração.

Quando a viagem de trem acabou, havia uma multidão nos esperando. O mundo inteiro estava feliz pois nós estávamos juntos! As pessoas vibravam, comemoravam, quase como se o casal que o destino havia traçado havia enfim se unido. Apesar da distância. Apesar dos problemas. Apesar das dúvidas. Apesar de todas as pessoas que haviam aparecido no caminho.

E como num coro de torcida ao nos ver juntos naquela parada de trem, todos gritavam em uníssono: "Beija!! Beija!! Beija!!".

E você, tímida, virou o rosto pra mim. Eu, vermelho da cabeça aos pés te olhava com meus olhos brilhando. E então você se aproximou de mim e nossos lábios se tocaram.

E não havia nada como aquilo no mundo. Não era apenas um beijo. Nossas almas haviam se encontrado, como se elas tivessem sido separadas desde o início das nossas vidas, ansiando pelo dia que nos encontraríamos de novo. Éramos duas metades incompletas, duas pessoas buscando em outras pessoas o que apenas nós conseguiríamos suprir. A busca havia terminado pois tínhamos nos encontrado e aquele beijo foi a maneira de selar essa união. E o mundo inteiro regozijava de felicidade, como se depois de tanto buscarem um ao outro, enfim aqueles dois estavam enfim juntos. 

A procura havia terminado. E daquele momento em diante as histórias individuais dariam lugar à história do casal. Éramos os protagonistas solo das nossas vidas, mas depois daquele beijo havíamos encontrado nossos deuteragonistas.

E então eu acordei. Foi um sonho.

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De volta à realidade, hoje fiquei me questionando se um dia nessa vida isso aconteceria. Relacionamentos são tão complexos, existem questões de dinheiro, sustentar uma casa, trabalhar. E como será ter que encarar isso tudo dado ao fato que luto contra uma depressão e você contra ansiedade? Será que nessa vida, do jeito que nós somos, seria possível viver na realidade o que o sonho havia mostrado?

Eu sinceramente não sei. Eu só tenho dúvidas e mais dúvidas, e isso gera mais e mais tristeza. E aí vejo o quanto sou incapaz, e não acho que as coisas entrarão nos eixos um dia. Ou se sequer minha vida dará certo. Tudo o que eu vejo na minha frente é uma escuridão sem fim. E que não tenho muito o que fazer.

Mas ainda existem os sonhos. E mesmo no sonho, cada segundo com você foi aproveitado ao máximo. Exatamente como eu te disse há quase dois anos. Pois no meio do deserto de tristeza e frustração das nossas vidas, houve aquele oásis, o tempo em que nós estivemos juntos. Um pedacinho de terra com água abundante, vida, árvores e flores que eu gostaria de viver para sempre, pois sei que ali você estaria comigo.

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