Livros 2021 #8 - 1808 (2008)

Achei perdido aqui em casa, já todo surrado e amarelado, o livro 1808 - Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil, livro de 2008 do jornalista Laurentino Gomes. Eu já comentei outro livro do Laurentino aqui, o que dá ainda mais recursos pra entender a evolução do autor durante o tempo e o quanto ele amadureceu. Mas 1808 não é um livro ruim, fala em uma linguagem bem simples e passa sua mensagem muito bem.

Laurentino Gomes já tinha seu estilo firmado mesmo na época. Na sua estrutura da escrita continua muito parecida com o "Escravidão", lançado mais recentemente. Gosto dessa transposição de fatos primeiro no aspecto geral (exemplo: Dom João VI se mudou para o Brasil) e depois no aspecto mais particular (a vida de Luiz Joaquim dos Santos Marrocos, o arquivista real que veio de Portugal para o Brasil cujas cartas que mandava para seu pai na Lusitânia foram guardadas até hoje). Coisa que Laurentino faz muito bem desde sempre e atiça nossa curiosidade para saber mais.

Ele, além de se debruçar por uma grande bibliografia para escrever seu livro, conta com a ajuda de diversos historiadores para trazerem mais e mais fatos curiosos sobre as personalidades centrais da obra. No capítulo sobre Dom João, por exemplo, ele nos apresenta diversos pontos de vista sobre sua personalidade de diversos estudiosos, como o diplomata Luiz Norton, a historiadora Lilia Schwarcz, e o também historiador e escritor Oliveira Lima. Isso só mostra o quão perspicaz ele foi em colher diversos pontos de vista, mostrando uma metodologia ótima de pesquisa. E isso se repete em diversos outros trechos do livro também.

Gosto também de como ele mostra bastante da história de Portugal. Desde que o Brasil ficou independente acho que fomos perdendo o hábito de saber o que aconteceu com Portugal, nosso papai. Eu mesmo na escola lembro que sempre aprendia sobre a vinda da família real pro Brasil fugindo de Napoleão, mas a gente não fica sabendo direito o que aconteceu depois, ou como foram as guerras lá. Uma coisa que aprendi lendo 1808 que eu não sabia foi que Arthur Wellesley, o Duque de Wellington, foi quem expulsou as tropas francesas de Portugal, e mais tarde o próprio seria quem derrotaria Napoleão de uma vez por todas em Waterloo.

Embora sendo uma obra excelente, ainda falta muito do requinte que talvez só o tempo, a experiência, e óbvio, fundos, trariam ao Laurentino. Seu mais recente "Escravidão" é uma obra que abrange um tempo bem mais longo, com informações ainda mais escassas, escondidas ou perdidas, e ainda assim está mais requintada do que 1808. Este livro é ótimo, a pesquisa foi bem feita, mas ainda sinto falta de mais detalhes ou um certo requinte, que parece que só o tempo deu ao Laurentino, especialmente na escrita, levantamento de histórias, e organização do livro em geral. Ainda assim, 1808 é uma obra essencial, que merece estar na estante de todo mundo, seja historiador ou não.

E esse tesouro tava encostado num armário de casa. É mole? Vou ver se junto dinheiro pra comprar 1822 e 1889!

Nota: 9

É um livro ótimo, e até meio injusto comparar com uma obra posterior, quando o escritor está mais maduro, tem mais pesquisa e uma estrutura maior. Talvez se eu tivesse lido na ordem invertida, daria 10 pra esse livro!

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