Quando o sonho se torna realidade.


Eu estou desde ontem chorando. Mas um choro de felicidade, lágrimas repletas de esperança. Eu nem sabia que a skatista brasileira Rayssa Leal existia há vinte e quatro horas atrás. Mas essa menina, e tudo o que ela significa, preencheu tanto o meu coração ontem quando a vi disputando (e ganhando) a medalha olímpica que toda a vez que vejo algo dela eu sinto como se um calor preenchesse meu coração de tal forma que extravasa em forma de lágrimas de tanta emoção.

Eu gosto muito de olimpíadas. Acho que a primeira que eu mais me recordo foi a Atlanta, de 1996. Eu tinha uns sete ou oito anos na época, e eu lembro a grandeza do que era aquilo para uma criança: uma competição centenária, onde vários esportes competem, equipes do mundo inteiro reunidas, em um evento tão importante que acontece de quatro em quatro anos. Eu lembro que fazia as contas, do tipo: em 2000 eu estarei com doze anos, em 2004 com dezesseis, e por aí vai. E pensava que eu cresceria e amadureceria com a competição nesse intervalo de quatro e quatro anos. Então eu mal podia esperar pela próxima.

Acho que a que eu mais assisti foi a do Rio, em 2016. Eu ficava assistindo todos os esportes, fosse que país fosse, pois o que me alimentava era a emoção. Era ver a superação, era ver a adrenalina de disputar um pódio e ser o melhor do mundo. Aquilo sempre me emocionou profundamente, meus olhos ficavam marejados a cada vitória, fosse do Brasil ou fosse de qualquer outro país. Ficava imaginando como deve ser quando a competição acabava e você ficava sabendo que era medalhista. E ao mesmo tempo achava o quão prazeroso deve ser representar seu país no que quer que fosse, no meio de outras pessoas que também estavam ali representando seus países, prontos para darem o seu melhor independente do resultado.

Bom, acho que já deu pra ter uma noção que de quatro em quatro anos eu tenho que separar uma caixinha de lencinhos pra assistir aos jogos olímpicos, certo?

Mas ontem foi tudo quadruplicado. Sentei para assistir o skate, modalidade street, torcendo obviamente pelo Brasil. Não conhecia Pamella Rosa, nem Leticia Bufoni. Mas quando vi a Rayssa Leal, uma menina de apenas treze anos, competindo ali com os mais velhos eu fiquei bastante surpreso!

Como se não bastasse, na tevê mostrou um VT do Globo Esporte onde ela, a fadinha do skate, conhecia sua maior ídolo, a própria Leticia Bufoni com a qual ela estava ali representando o Brasil lado a lado, em plenos jogos olímpicos.

Na minha mente passou algo como se fosse um filme. Aquela menina fazendo um heel flip com um vestido azul e asinhas, teria noção do que estava prestes a acontecer na sua vida? Onde aquilo a levaria, e que o contato e amizade com lendas do skate como o Bob Burnquist e o Tonynho (o lendário Tony Hawk), sendo respeitada e admirada por eles, e ao mesmo tempo ali em Tóquio, em plena olimpíada, competindo ao lado da maior ídolo dela, a Letícia Bufoni?

É óbvio que houve muito esforço e dedicação por parte dela. A gente só vê o dia da competição e não tem noção do imenso esforço e do quanto ela trilhou para chegar até lá. E quanto mais eu via sobre ela, mais eu só conseguia derrubar mais e mais lágrimas!

Uma gratidão em poder conhecer a história dessa menina, me senti tão inspirado e motivado, que talvez essa menina nem tenha noção do quanto a imagem de alguém como ela é um exemplo para todos. Eu, que não consigo nem ficar em pé num skate, pensei na minha responsabilidade também. Será que eu conseguiria ser alguém como a Letícia foi para a Rayssa Leal?

Lembrei da Mika, uma filha de uma amiga minha que desenha bastante, assim como eu. Ela também é uma criança, e eu sempre dou uma força pra ela, dando dicas, mostrando desenhos, trocando experiências. Ela própria já disse que adora minha arte, e eu sempre tento incentivá-la, analiso os desenhos, teço críticas construtivas, e celebro cada vitória. 

Eu costumo mostrar a ela meus desenhos antes de publicar nas redes sociais. Algo como um ingresso VIP, hahaha. Hoje enviei uma leva de alguns que vou postar, e pensei nessa nossa responsabilidade em ser para os mais jovens o que alguém foi para a gente.

Assim como a Mika se inspira em mim (ou pelo menos eu imagino que sim), eu lembrei do meu falecido professor John. Um professor bastante amigo, sempre incentivou meu desenho, me dava ótimas dicas, e me fez ter mais gosto ainda pela arte. Foram apenas dois anos, na quinta e sexta séries, mas deixou uma marca profunda em mim: quando um artista profissional como ele, um acadêmico, incentiva um moleque como eu, me senti como a Rayssa quando conheceu a Letícia.

A noção de ser visto, de ser admirado por alguém que você tem admiração, é uma das melhores coisas do mundo. É algo que deixa a gente lá em cima, quando somos crianças isso é como ter o mundo em nossas mãos. É a história da humanidade: onde a geração anterior passa o bastão para a geração seguinte, na esperança de que o mundo que deixamos para eles seja aproveitado ao máximo e eles possam carregar nossa alma dentro deles, usando tudo o que aprendeu conosco, e nos façam viver no talento da geração mais nova que vem por aí.

Obrigado do fundo do coração por me fazer refletir essas coisas, Rayssa Leal e Letícia Bufoni. O exemplo de vocês ultrapassa qualquer limite do esporte. São verdadeiras lições para a vida.

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