Um interminável e sufocante loop.

"A outra coisa sobre a depressão é que o tempo acaba. De repente, você descobre que seus dias inteiros se misturam para criar um ciclo infinito e sufocante. Então você se pega tentando se lembrar das coisas que te faziam feliz. Mas, lentamente, seu cérebro começa a apagar todas as memórias que já lhe trouxeram alegria. E, finalmente, tudo o que você consegue pensar é em como a vida sempre foi assim. E só vai continuar a ser assim".

Essa é uma citação de uma fala da Rue Bennett, personagem da talentosíssima Zendaya, na série Euphoria, da HBO. Eu lembro de que quando eu vi a descrição dela sobre como se sentia dentro da depressão, eu me vi muito ali.

Dia desses me perguntaram minha idade. E eu tive que parar e fazer a conta, pois eu não sabia quantos anos eu tinha. Eu sabia que eram mais de trinta e menos de quarenta. Em 2018 fiz trinta. Passaram três anos. Mas ainda não chegou julho, então ainda são trinta mais dois.

Aí uma amiga me perguntou se eu não comemorava meu aniversário. E de facto, a última vez que eu festejei foi em 2012, num karaokê, com meus amigos. Em um tempo que eu tinha um emprego, tinha esperança, fazia academia, tinha uma vida totalmente diferente.

Depois disso parece que de 2013 até hoje é tudo um monte de coisa misturada que eu não consigo distinguir. Não consigo ver coisas boas que aconteceram, não consigo contar o que aconteceu em tal ano. Pois em todos esses anos eu fui um grande nada. Uma depressão e incontáveis coisas dando errado, uma atrás da outra. Muitas falhas, muitas desilusões, muitas vezes que bati a cara na parede. E tantas vezes que a vida me nocauteou sem nem me dar tempo de me levantar.

É claro que devem ter acontecido coisas boas. Mas é uma ou outra coisa no meio de 365 outros dias ruins no ano. Eu lembro que eu fazia ótimas retrospectivas, como essa de 2012, de anos incríveis, com coisas incríveis que me aconteceram e que vivi. Mas desse grande buraco que se formou em 2013 para cá, não houveram mais retrospectivas memoráveis. As coisas começaram a dar errado, tudo começou a se afundar, e eu afundei junto.

E eu achei muito louco a forma que ela descreveu. A série já é ótima, mas talvez ver o nosso problema pelo ponto de vista de outra pessoa, eventualmente faz com que a gente entenda melhor o que acontece dentro de nós mesmos. E eu percebi que tudo se encaixava em mim perfeitamente. Tudo virou um ciclo que se retroalimenta sem parar. 

Os anos viraram um grande vazio, uma mistura de um monte de coisa ruim. Era como se o tempo tivesse parado, mas ele não parou. E quando eu me ligo, hoje, que já se passaram três mil e cinquenta e quatro dias, me deixa pior ainda em imaginar quanto tempo passou. 

E eu entro em outra bad.

E assim mais um dia se junta aos outros três mil e cinquenta e quatro.

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