Já me esqueci de te esquecer, porque o teu desejo é meu maior prazer.

Quando meu irmão se casou, achei algo muito repentino. Em exatos um ano e uma semana ele conheceu, namorou, noivou e casou. Achava que seria como vejo nas outras famílias, onde a família convive um bom tempo com a namorada, com relacionamentos que se prolongam anos de namoro até acontecer o casamento. Mas eu aceitei o destino quando vi que o que os unia era algo mais forte que o amor: era a fé. E naquele dia em que meu irmão trocava alianças com minha cunhada, eu só queria uma coisa: você ali do meu lado.

Já fazia um tempo que eu não sonhava com você. Mas nessa última noite aconteceu.

Fazia um tempo que não conversávamos. Acho que para duas pessoas que sofrem de muita ansiedade, estar vivendo um momento onde isso tudo é elevado à vigésima potência faz a gente recuar. Pandemia não é fácil. E saber dar tempo e espaço para quem amamos é algo essencial para que as coisas se mantenham saudáveis. Por mais que aja insegurança, medos, e incertezas, o que é mais forte é o desejo sincero que o amor da nossa vida fique bem. Mesmo que isso signifique deixar de ter a presença como antes.

A última vez que falei contigo foi no seu aniversário. E depois de te dar parabéns, sinto que a frieza foi dominando mais e mais. Dali a quase um mês do seu aniversário chegaria o nosso cinco de agosto. E o último cinco de agosto foi em 2019, em um momento em que nem imaginávamos o que aconteceria no mundo.

Pois exatamente no dia cinco de agosto, uma garota da feira onde compro pastel deu em cima de mim. Foi bem sutil, mas na hora parecia uma brincadeira do destino: a encruzilhada do destino havia se aberto. Continuar aguardando você, ou ir por esse caminho que havia se aberto?

E então, nesse momento de decisão eu, educadamente, dispensei a garota do pastel. Por quê? Porque eu me lembrei de como era você. Se a mulher que eu esperei pela vida inteira estivesse tão perto de mim, eu seria capaz de colocar tudo a perder? Será que eu seria capaz de me perdoar depois?

Será que não é disso que são feitas as paixões? Afinal aquela sua canção foi a que tocou o meu coração. E foi a minha escolha. E eu sabia que mulher nenhuma do mundo me faria sentir aquilo que senti quando olhei nos seus olhos. E jurei que aproveitaria cada segundo daquilo como se fosse o último.

Um único momento apoteótico em uma vida resvalar. Foi assim que foi aquele dia que passamos juntos.

No domingo eu senti que devia entrar na reunião. E, naquele momento, eu lembrei do que havia unido o meu irmão com a esposa dele: que havia uma força invisível que, por mais que as circunstâncias acontecessem para separá-los, algo os unia mais uma vez.

E eu, que fazia semanas que não entrava, vi você ali. E eu sei que você nunca entra. Essa força invisível havia entrado em ação, eliminando todas as dúvidas de uma paixão e mostrando o caminho mais uma vez claro como a água mais pura. Naquele dia eu senti que devia entrar. E ver você, ouvir sua voz, especialmente falando sobre a nossa fé, reavivou minha chama. E em diversos momentos nossos olhares se encontravam. E eu lembrei o que faz tudo valer a pena.

Que essa pessoa é você.

Na noite de ontem pra hoje veio mais um presente. Sonhei que era casamento da irmã do meu amigo Thiago. E eu havia sido convidado, e eu estava ajudando a mãe dele, que estava procurando suas coisas. Como era o dia do casório, todos corriam de um lado para o outro, e eu que já estava vestindo meu terno fui dar uma mão para a mãe do meu amigo. 

Quando terminei de ajudá-la, o Thiago deu um toque no meu ombro e disse: "Olha só quem chegou, a sua bela!".

E ali estava você, sorrindo como sempre, com seu cabelo solto e preto, sua pele morena, um batom vermelho e um vestido lindo cor de magenta. Eu me aproximei surpreso, mas com tanta felicidade que não cabia em mim. Você me cumprimentou, me deu um beijinho, e eu disse como você estava deslumbrante naquela roupa, que não tinha como não ter surpresa melhor.

E você sorriu, e ficamos conversando um pouco.

O que me veio na cabeça foi aquela sensação de estar completo, sabe? Aquela sensação única que você foi a única mulher que me fez sentir assim. É verdade que a gente sempre tenta buscar amor próprio, ser feliz com nós mesmos, mas a sensação que eu tive naquele dia cinco de agosto era que isso tudo que eu pensava de mim era uma grande besteira.

Que eu não era completo, nem autossuficiente, nem independente. Havia ali uma pessoa que me complementava em tudo o que me faltava: que me encorajava contra meus medos, que tinha paciência comigo, que cantava as mesmas músicas que eu, e me fez perceber que havia um buraco imenso dentro de mim que só poderia ser preenchido com você ao meu lado.

Eu era como os casais que eu via por aí. Não era a pessoa mais bonita, mais charmosa, de melhor status social. Era a pessoa que nos completava, nossa metade indivisível, nossa soma.

E uma vez juntos, parece que até o universo se regozija, e vê como nós dois formamos um casal lindo!

Tudo sempre foi uma questão de fé. E mesmo quando a menor fagulha de dúvida ou desmotivação aparece, é como se algo aparece de novo para reavivar essa chama e nos mostrar que só existe um caminho para a felicidade. E para ser feliz, essa pessoa é você, meu amor! Aquela pela qual eu esperei tanto na minha vida.

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