Livros 2021 #15 - História do novo sobrenome (2012)


Somos chamados de Ferranters esses curiosos ser-humaninhos que adoram o trabalho desse incrível escritora italiana. Eu que a conheci através de "A vida mentirosa dos adultos" já estava há tempos doido para colocar as mãos em sua obra principal: a Série Napolitana (também conhecido como a tetralogia). Mas para ser mais divertido, não comecei pelo primeiro livro dos quatro. Mergulhei primeiramente no segundo, e aqui estão as minhas impressões.

São quatro livros no total. Quando fui até a biblioteca que frequento tentar pegar emprestado o primeiro livro, infelizmente ele não estava disponível. Mas o segundo estava, então decidi começar por ele. Eu sei que pra muita gente isso é algo no mínimo questionável, mas eu fui com a premissa pessoal de que: sempre o segundo de uma série é o melhor! A vida me ensinou isso, e pessoalmente gostei e me impressionei tanto com essa obra, que para as outras me ganharem vão ter que se mostrar tão boas quanto!

Quando eu já estava mais ou menos na metade do livro, fui ler a sinopse. E percebi que os quatro livros são a trajetória de vida contada pela Elena Greco junto de sua melhor amiga, Raffaella Cerullo. Ambas são tratadas pelos seus apelidos onde Elena vira Lenu, e Raffaella vira Lila. A HBO em parceria com a RAI fizeram a excelente série My Brilliant Friend cuja história é baseada nos dois primeiros livros da Elena Ferrante (que, agora que eu terminei pelo menos um dos livros, farei questão de assistir).

A coisa que mais gosto na Elena Ferrante é o jeito de escrever. Ela consegue nos envolver bastante e passar muito bem os pensamentos e aspirações de suas protagonistas. A Lenu é uma personagem bem inteligente, embora sinta-se eternamente inferior à sua amiga genial, a Lila. Uma narradora feminina, com virtudes e falhas como qualquer ser humano, mas com uma profundidade de caráter que é explorada do jeito que só a Ferrante sabe fazer. A gente se envolve, se emociona, passa raiva e chora junto da protagonista em sua trajetória de vida.

Acho ruim a quantidade imensa de personagens. Porém logo nas primeiras páginas do livro existe um índice com todos os personagens e uma micro biografia explicando quem é quem. São muitas famílias, muitos personagens, e o que me deixava ainda mais perdido era que muitos ali eram tratados por apelidos também. Pinuccia vira Pina, Enzo vira Enzú, e tem três personagens com nomes muito parecidos: Nino, Rino, Gino e Pino. Eles não possuem uma relação entre si muito significativa, mas era um saco e eu me perdia muito!

Mas o livro trata de muitos assuntos bem pesados que devem ser discutidos. O livro tem vários gatilhos com violência contra esposas, altas doses de machismo dos anos sessenta, e muitos casos extraconjugais. Ao mesmo tempo é gostoso de ver o amadurecimento e entrada da vida adulta das personagens, com todos os dilemas profissionais e de relacionamentos que todos nós encontramos nessa fase da vida.

Parece que o livro anterior tanto a Lenu quanto a Lila são crianças, e elas são mostradas até a entrada na vida adulta.

Mas o facto de ter começado pelo segundo não acho que afetou em geral meu aproveitamento do livro. Claro que ficaram algumas lacunas, mas deixei elas ali para serem preenchidas quando eu ler o primeiro livro. Elena Ferrante é um dos grandes nomes de bestsellers atuais, e independente do livro que você decida começar a tetralogia, sugiro que apenas comece, não importa qual! Cada fase da vida das protagonistas tem seus dilemas, suas emoções e suas dificuldades. Um livro para nos levar até Nápoles, essa terra tão bem retratada nas obras dessa magnífica autora.

Nota: 9
Só não dou dez porque são muitos personagens e eu ficava meio perdido.

Agora é hora dos SPOILERS
Revelações do roteiro abaixo

Como eu caí de paraquedas do livro, sem saber o que se passava antes, eu lembro que me impressionou muito o livro começar com um casamento, a triste união de Lila com Stefano Caracci. E mais triste ainda foi ver que logo no começo tem uma cena bem triste onde o próprio Stefano espanca a pobre Lila logo depois de casar, pois era para "educar" a esposa rebelde.

E um casamento que já começa mal, é difícil de seguir bem. Eu não sei se entendi bem, mas parecia um casamento arranjado no livro anterior. Embora a Lila fosse uma aluna brilhante, parece que acabou sendo obrigada a casar cedo, enquanto Lenu, que ninguém nutria grandes esperanças, filha do contínuo (termo antigo para office-boy), foi a que prosseguiu nos estudos. Eventualmente Lenu consegue ir tão bem nos estudos que vai até a faculdade de Pisa, e vira uma escritora de sucesso no final com seu livro inspirado em A fada azul, livro escrito pela Lila quando tinha apenas dez anos.

Lila parece que tinha um espírito bem livre, mas que não era aceito pela sociedade dos anos sessenta. E isso a Lenu destaca de várias maneiras, mesmo que ela não fale explicitamente nesses termos. 

Apesar do casamento triste, Lila se dedica nos negócios do marido, uma charcutaria. Ao mesmo tempo, sua família de sapateiros, tentam usar uma grande foto sua para atrair clientes para comprar calçados. Mas estamos nos anos sessenta, e não era bem visto na sociedade que mulheres se expunham. O negócio começa a pegar fogo mesmo quando Lila engravida, mas logo acaba sofrendo um aborto: o médico então manda ela tomar banhos de mar para recuperar a saúde e poder engravidar.

É então que a capa do livro faz sentido: Lila chama Lenu para ir com ela para as paradisíacas praias da Ísquia, uma ilha ali no golfo de Nápoles, com as lindas praias Barano e Maronti:


De cair o queixo! E é aí que a história principal do livro se passa. Mas resumindo rapidamente essas 130 páginas do que acontece em Ísquia: Lenu, Lila, Nunzia (mãe da Lila), Rino (irmão da Lila) e Pinuccia (cunhada da Lila) vão para esse paraíso e encontram lá Nino e seu amigo Bruno. Lenu, que já estava de olho em Nino Sarratore tem seu olho furado justamente pela melhor amiga, a Lila.

Só que a Lila é casada, e ela faz então um rolo imenso para ter encontros com o Nino. Como o marido Stefano só chegava no fim de semana, ela achou que ninguém iria testemunhar o caso extraconjugal. Mas aí que um casal de amigos, Michele e Gigliola ("Michele" é nome masculino em italiano) flagram sem querer Lila e Nino andando de mãos dadas, e Stefano, que passava a semana trabalhando em Nápoles, fica sabendo do chifre.

Lila ainda tem uma última noitada quente com Nino, que a deixará grávida dele.

E Stéfano que não é flor que cheire, chega furioso pra cima de Lila, manda ela de volta, a tranca em casa, mas resolve assumir o filho dela com outro cara. Lenu, que estava muito puta com a amiga que acabou com seu romance, vai para Piza estudar e faz lá sua vida. Tem seus namoros, conhece seu noivo, enfim.

Já Lila primeiro tenta fugir com Nino para algum lugar ali do Campi Flegrei. Mas é um buraco no meio do nada e Lila desiste da relação com Nino. Ela descobre então que seu marido está tendo um caso com Ada, a funcionária da charcutaria, e ela decide fugir com Rinnucio, seu filho, e Enzo, um amigo, para o subúrbio de Nápoles, em San Giovanni a Teduccio.

E lá o livro termina com Lenu encontrando Lila e lhe entregando uma cópia do livro A fada azul que ambas tinham escrito quando eram crianças, que a professora falecida havia guardado até então. Lila, a garota genial, está pálida, com uma aparência péssima, e trabalhando numa fábrica de embutidos insalubre na região. Lila está com uma aparência decadente, completamente diferente daquela menina que tinha tantas possibilidades — muito por ter se casado com um escroto covarde que a agredia, abandonada pelo homem que trocou pelo marido, grávida numa idade muito tenra, e tendo que sustentar essa nova vida que deu à luz.

No entanto o livro de Lenu é muito bem aceito pelas editoras. E ela realiza o sonho que queria realizar com Lila desde a infância: de ser escritora.

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