O mundo parecia estar nas mãos.
Eu me lembro daquelas noites frescas, com vento ao rosto, a avenida movimentada, e as luzes dos prédios. Enquanto caminhava naquele pavimento com aquele piso alaranjado, a luz daquele grande prédio ao lado brilhava como uma estrela do céu noturno próxima da gente — uma luz presente, notável, mas não forte o suficiente como a luz do dia.
Eu via as pessoas caminhando e os carros passando. Que mundo era aquele que eu havia mergulhado? Tudo era tão diferente.
As ruas de Moema tinham aquele cheiro de mato misturado com o escapamento dos carros. A distância das quadras eram sempre as mesmas, e eu me lembrava dos princípios do Vitrúvio que eu via nas aulas de arquitetura. Era muito mais organizado que a realidade do meu bairro, onde cada um parecia construir onde quisesse, do jeito que bem entendesse.
Quando estivesse de saco cheio da faculdade, tinha um shopping a poucos minutos de caminhada. E quando quisesse caminhar sem destino, era possível também. O hotdog do seu Luís na frente da faculdade da minha mãe era religioso. Nem sei se ele está vivo hoje em dia.
No meu MP3 player eu tinha poucas músicas. Mas não podia faltar Bluebell. Aquela voz doce dela era o que eu gostava de ouvir enquanto andava por lá. Eu ficava viajando enquanto a ouvia. Sentia que o mundo estava em minhas mãos. Sentia que meu sonhos poderiam se realizar. Sonhava com uma vida de liberdade onde um portão imenso para o futuro se abria na minha frente.
Eu tinha nem completado dezoito anos ainda. E se hoje com mais de trinta eu ainda tenho dificuldades de entender como o mundo complexo de vivemos funciona, na época eu sentia que sabia de tudo — justamente pois eu estava me adentrando naquele mundo novo e desconhecido, de primeira faculdade, de usar ônibus para chegar lá, e de estudar à noite.
O vento fresco da avenida, trazido pelos carros que passavam correndo, fazia meu cabelo tingido de vermelho da época voar. Antes de atravessar eu olhava pro semáforo, aguardando que ficasse verde para os pedestres. Quando não tinha ninguém olhando, eu fechava os olhos e caminhava na calçada seguinte. Tudo o que eu tinha era um sorriso no rosto, a juventude do final da adolescência, e o sentimento de que na frente não importasse para onde eu caminhasse, tudo iria dar certo.
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