A homossexualidade é o padrão do ser humano.
Talvez um dos livros que mais abriram minha mente esse ano foi Devassos no Paraíso. Como eu mesmo disse, fiquei maravilhado, parecia que uma nova camada de mundo havia se aberto para mim. Nada dali eu conhecia, eu não sabia nada sobre as lutas da comunidade LGBTQIA+, e é um dos livros que quero na minha estante. Comecei a pensar em uma teoria — só que claro, nem chega ao perto de um estudo antropológico oficial. É apenas um pensamento, de que talvez o padrão da nossa espécie seja relações homossexuais, e não as hétero. Vou discorrer sobre o que penso aqui.
Antes de mais nada acho que temos que excluir qualquer noção religiosa logo de início. Quase todas as religiões do mundo condenam a homossexualidade, e para isso usam argumentos de que "o homem foi feito para a mulher", de que "relações homossexuais são erradas e impuras", entre outras coisas. Acho isso tudo bem conveniente pelo simples facto de que: se eu quero criar uma religião, quero ter muitos praticantes e durante muitas gerações a fio, para que ela sobreviva e se desenvolva. E acaba sendo bastante lógico atribuir pecado às relações homossexuais, pois embora elas criem laços afetivos e dêem prazer, não necessariamente geram novas pessoas. Para uma religião sobreviver, não pode aceitar homossexualidade, pois não gera novos descendentes.
Deixando esse conceito acima bem claro, vou tentar discorrer aqui o que eu penso. Para isso, temos que voltar à aurora do Homem (aqui, com "H" maiúsculo, no sentido antropológico do termo, não do gênero).
A evolução das espécies não está relacionado à sobrevivência do mais forte. São as pressões genéticas que trazem vantagens que vão sendo passadas, coisas que tragam benefícios na hora da caça, na procriação, e proteção da espécie. Até que chega o ponto de mudança onde a espécie consegue evoluir para outra, ou acaba se extinguindo. Colocando em pontos bem práticos, basicamente é assim.
Considerando que a nossa espécie, o Homo Sapiens, surgiu há pelo menos 200 mil anos, foi apenas talvez ali nos últimos dez mil que ele começou a se organizar em comunidades. Significa que em 95% da nossa existência, éramos os coletores/caçadores: vivendo em pequenos grupos nômades, com uma expectativa de vida de 20 anos, caçando e colhendo o que havia no local, e indo para outro assim que os recursos dali acabavam.
E esses 195 mil anos é um tempo grande para que aja pressões seletivas ao longo das gerações. Muito mais do que os últimos dez mil.
A vida para o homo sapiens selvagem basicamente era focado na sobrevivência e migração. E no meio de tudo haviam guerras e batalhas entre outros da mesma espécie: nossa espécie de macacos possui uma agressividade inerente. Uma coisa similar que vemos com nossos primos, os chimpanzés e bonobos também são bem agressivos entre membros de sua própria espécie. É a teoria do macaco assassino que acho que explica muito o nosso comportamento social.
E é óbvio que no meio dessas brigas, muito parecidas com o que mostra no começo do "2001: Uma Odisséia no Espaço", fomos sendo moldados a viver nesse ambiente: onde os indivíduos masculinos, mais fortes fisicamente e maiores, em comparação com a maioria das fêmeas, tinham que se juntar a outros indivíduos, e assim, ganhar essas batalhas.
E conforme nossa espécie ia evoluindo em questão de consciência — e aqui eu gosto muito da teoria de que o consumo de cogumelos foi decisivo para a nossa evolução cognitiva — a forma mais primitiva de prazer ainda era basicamente relações sexuais. E como uma parceira feminina não estava sempre disponível, afinal elas estavam resguardadas cuidando da prole, enquanto os indivíduos masculinos travavam as batalhas, o sexo homossexual era o padrão comportamental.
Acredito nessa teoria pois todo homem, independente da sua orientação sexual atual, carrega em seu corpo o resquício desses milênios fazendo sexo entre indivíduos do mesmo gênero: o orifício anal de todo homem é uma zona erógena. Algo que é incomum nos indivíduos femininos humanos.
Eram os homens que tinham essa característica exarcebada — a zona erógena anal — que conseguiam passar seus genes para as gerações seguintes. Eram os homens que, no meio das batalhas contra sua própria espécie, tinha o sexo com indivíduos do mesmo gênero não apenas uma válvula da escape do estresse, mas também de criarem afetos, estreitarem laços, confiança, entre outras coisas. E como eram esses que, se sentindo mais motivados para ganharem batalhas, eram os que voltavam para copular com as fêmeas e passar esses genes para a próxima geração.
Logo, os homo sapiens masculinos que transavam com outros homens, eram os sobreviviam mais, ganhavam mais batalhas, e que passavam os genes adiante. Os que não o faziam, normalmente perdiam batalhas, morriam, e não passavam seu DNA sem a zona erógena.
Classificar a sexualidade é uma criação humana. Somos macacos com uma visão muito limitada de mundo, que precisa encontrar padrões em tudo para conseguir dar significado ao nosso mundo. O que hoje classificamos como hétero, homo, bi, trans, queer, não-binário, intersexo, e outras classificações, são elementos que criamos para tentar classificar o mundo à nossa volta. Mas a verdade é que as coisas na verdade são muito mais complexas.
Mesmo sexualidade, não é algo "sim ou não". Acredito que seja mais um espectro. Existe o homem que é casado, mas gosta de pagar um gigolô para lhe fazer sexo anal. Existe a mulher lésbica que sente curiosidade em transar com um homem. Existe o homem ou mulher que não vê limites e gosta de homens e mulheres ao mesmo tempo. Existe o homem que é "afeminado" mas sente atração por mulher. E assim por diante. É praticamente impossível achar alguém que seja cem porcento hétero, homo, bi, trans, queer, não-binário, intersexo, etc, pois essa classificação é baseada em padrões que criamos para dar significado ao mundo ao nosso redor.
Eu mesmo consigo me enquadrar nesse espectro. Eu sou uma pessoa muito comunicativa e emotiva, uma característica que é muito fora dos padrões de um indivíduo masculino que a sociedade estabeleceu como padrão: normalmente os homens são bem brucutus e não costumam expressar emoções. Mas apesar dessas características "femininas" em mim, sexualmente e emotivamente eu me sinto atraído apenas por mulheres, pois me reconheço como uma pessoa masculina heterossexual cisgênero.
Ao mesmo tempo, assim como classifico a homossexualidade como o padrão no ser humano, eu coloco a heterossexualidade como apenas outro elemento normal secundário. Se a relação homossexual tem como objetivo o prazer e criar laços afetivos, relações heterossexuais podem também igualmente ter esse fim:
As fêmeas humanas não tem um "cio" como em outros mamíferos. E acho que isso também é algo que herdamos desses quase duzentos milênios como caçadores/coletores: sexo para nossa espécie é um ato social, não apenas para procriação. Talvez foi por meio do sexo que as alianças foram se formando, que desenvolvemos a capacidade de amar, de cuidarmos de nossa família, e gerar mais e mais gerações. E embora as mulheres ainda tenham aquele pico de estrogênio, onde elas sentem mais desejo sexual durante a ovulação — que também faz todo o sentido evolutivo, pois é o mecanismo para conseguir realizar um intercurso sexual com o objetivo de proliferar a espécie — também existe a libido nos outros dias.
Talvez o maior problema começou a surgir mesmo nesses últimos dez mil anos, onde nos tornamos sedentários, criamos a agricultura, fundamos comunidades e depois cidades, e junto delas veio também a religião. Relegar relações homossexuais como fruto de supostos pecados não acabou com a homossexualidade e nunca vai acabar: ela é um elemento inseparável de nós mesmos, se nossa espécie evoluiu e hoje está aqui, foi por conta de passarmos 195 mil anos de nossa existência sem criar limites para expressarmos nossos desejos, inclusive sem condenar.
Imagine um mundo onde não existisse esse preconceito? Talvez tudo seria muito diferente. Não haveria um capitão do exército que, sentindo desejo por pessoas do mesmo sexo — afinal treinava em um lugar onde só haviam homens —, não precisaria se reprimir. Ele poderia dormir e sentir o prazer que sempre quis sentir, sem a necessidade de ficar negando seu desejo para posar de guardião de "honra" ou "costumes". Se ele tivesse saído do armário, e viver uma vida sem preconceitos, com certeza seria uma pessoa muito mais feliz. E, eventualmente, nem acabaria se tornando presidente.
🤷♂️
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