Baile das cordas & Nós, de Ciel Blue.


Hoje quero fazer algo diferente, e escrever sobre música! Eu não sou uma pessoa muito ligada em música, mas independente da falta de conhecimento técnico, é uma arte. E como tal, eu posso falar da impressão que tive em meu coração. São duas canções de uma banda de amigos meus, o Ciel Blue.

Quando meu amigo Thiago, integrante da banda, veio em mim pedir para bolar uma capa para o novo single da banda, no início eu não achei que eu fosse capaz disso. Eu não tinha ouvido a canção, apenas tinha um briefing inicial: que essa canção seria um jazz bebop. E como foi produzida por pessoas da quebrada da cidade, que a capa unisse uma coisa com a outra.

Fiz e entreguei a arte, e demorou um pouquinho até a canção ser lançada, por conta da pandemia. Mas quando o Baile das cordas (acima) veio ao mundo, a primeira coisa que me impressionou foi a riqueza e multiplicidade do seu som. Aquilo parecia uma verdadeira orquestra de violões: são sons de fundo, que ficam ali mantendo as batidas essenciais, e os sons que emergem dela, cuja melodia vai guiando nossas sensações e trazendo imagens à nossa cabeça!

Acho que o maior talento que os músicos da Ciel Blue têm é conseguir essa proeza de fazer o violão cantar. Todas essas notas, colocadas no timing perfeito, a gente não sente falta de um vocalista. Tem um começo com uma tristeza, parece ir aquecendo dentro das emoções que as cordas nos propiciam, e quando chega ali pouco antes do primeiro minuto tem algo como se fosse um primeiro refrão.

Esse mesmo ápice acontece mais para frente, aos 1m40s, que é minha parte preferida da música. É uma batida bem característica, que parece o vai-e-vem de um casal dançando, se encontrando e se distanciando. A gente entra no ritmo, e se deixa ser levado, e na segunda vez que ouve percebe que isso estava desde a primeira harmonia da música: apenas as notas eram diferentes.

Conseguir fazer esse conjunto de acordes irem se repetindo durante a música, mantendo a mesma base, criando com ela introduções, pontes, e refrões, só mostra o quão genial são esses meus amigos: com algo simples, fazer uma obra tão complexa, e sem deixar um único momento isso monótono: a música expira vida a cada passada, os dedos passando pelas cordas do violão, esse delicioso vai-e-vem dançante, e essa capacidade de fazer um som com uma profundidade — como se houvessem uma orquestra de violões — é o ponto que mais adorei nesse som que eu tenho o orgulho de dizer que ajudei a fazer uma pontinha!

E além de tudo conseguir criar um som com a riqueza de um bebop, mas usando apenas o violão. Não sinto a falta, parece que toda a composição e harmonia estão ali, o que mostra o quão desafiador foi criar esse som. Uma obra inesquecível! 

A segunda canção que quero falar aqui é a produção mais recente deles: Nós (acima). Continuando com o som acústico do violão de fundo, aqui temos a presença dos vocais do Tarcísio. Sou suspeito para falar, mas tem um outro intérprete brasileiro, um pilar da música brasileira, que acho que tem a voz única e parecida com a dele: do deus da MPB, Milton Nascimento.

Acho realmente a voz muito parecida, o que não é para qualquer um ter nascido com um talento assim!

A letra é linda demais, tem um quê de tristeza, sobre solidão, sobre lágrimas. Mas ali no meio a música vai edificando uma felicidade, junto do ritmo que vai também ganhando corpo, e termina transformando aquela tristeza em esperança. Isso muito pelo simples e lindo refrão, contendo apenas essa palavra que significa tanto, com seus profundos significados: amor.

Então você junta uma batida de violão linda tocando ao fundo, uma letra simples, interpretada por alguém com uma voz esplêndida — com direito a um eco na medida certa, que dá um charme extra todo especial — e temos a receita para uma experiência musical imperdível. 

Apesar do trabalho que dá criar algo original, a gente fica com um gostinho de querer mais. A música dura menos de dois minutos!

Mas acima de tudo é ótimo apreciar a arte dos nossos amigos! A arte tem essa, não é mesmo? Não importa o meio, seja musical, cênicas, plásticas, ou qualquer outra, quando é feita de coração todas falam a mesma língua. No cenário independente, Ciel Blue vem cada vez mais desbravando e mostrando um novo som, essa pegada folk, acústica, com influências que vai desde o Bob Dylan até o Baden Powell, mostrando que o simples continua sendo um clássico. E vão assim remoldando nosso repertório musical, o enriquecendo cada vez, nos trazendo sensações e emoções com toda a complexidade do seu som, e trazendo luz para todos nós nesses tempos tão sombrios.

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