Livros 2021 #18 - Gostaria que você estivesse aqui (2021)
O formato de novelas parece ser restrito à televisão, mas quando ele é transportado para um livro, o resultado pode ser imperdível. Um jovem perdido na vida, uma garota a frente do seu tempo, um rapaz gay de classe alta, a mãe desse rapaz gay, e um migrante nordestino sedento por vingança parece mesmo a receita perfeita para a próxima novela das seis. Adicione a isso tudo o clima dos anos oitenta, com o fim da ditadura militar, a chegada do HIV no Brasil, e muita música de qualidade.
Acontece que eu li em setembro passado no clube do livro e não cheguei a postar aqui sobre! Livro do incrível Fernando Scheller, intitulado "Gostaria que você estivesse aqui". Os personagens são esses mesmos que citei acima, e o autor escreveu de uma forma bem interessante: cada capítulo se passa em um ano, de 1980 até 1989. E em cada capítulo ele dividiu em estórias centradas em cada um dos protagonistas: Inácio, Baby, César, Selma, Rosalvo, respectivamente considerando a descrição deles no parágrafo acima.
Embora eles tenham suas histórias correndo de maneira independente, eles eventualmente interagem entre si. Mas cada um possui sua trajetória, medos, felicidades, e motivações. O cenário é o Rio de Janeiro, com música de qualidade efervescendo em todos os cantos, a ditadura militar cada vez mais se deteriorando, e a sensação de liberdade e novos tempos se aproximando.
Inácio é um jovem cheio de dúvidas e incertezas. Não sabe exatamente o que vai estudar, por ser o nerd tímido da turma. Tudo isso muda quando Baby, uma das meninas mais bonitas da universidade, se interessa por ele. Mas o interesse dela mais tarde é mostrado como uma fuga que havia nela do noivo da classe alta que a mãe havia proposto a ela antes de conhecer Inácio: Baby quer poder escolher os rumos da sua vida, e não um marido apenas pela questão do dinheiro.
Paralelo ao Inácio, até o ponto que eles se conhecem, está César. Um jovem da classe alta, que se descobre gay. Após ter sua primeira relação em uma sauna gay, ele enfim sai do armário para viver sua vida e sexualidade. Mas estamos nos anos oitenta, e a AIDS tinha acabado de chegar no Brasil, e todas as consequências pejorativas do então chamado de "câncer gay" criar ainda mais preconceitos contra indivíduos homossexuais.
E temos Selma, a mãe de César, que apesar do grande amor pelo filho, tenta protegê-lo enquanto ela mesma tenta ressignificar sua vida: conhecendo um novo amor, enquanto é testemunha ocular da mudança da sociedade que viveu, para a que está se transformando nos anos oitenta.
E por fim o Rosalvo, um caipira mineiro que tinha uma filha trans. Marquinho, que depois da transição se torna Eloá, mesmo sendo muito amado pelo pai, que aceitava e apoiava sua transição de gênero, Eloá resolve tentar a vida no Rio de Janeiro. Mas é morta por chefes do crime na favela, e então o pai, que tinha aquela filha como pilar de sua existência, resolve se mandar para o Rio de Janeiro para investigar e se vingar da pessoa que levou dele quem lhe era mais importante.
Um livro bem escrito, de leitura fácil e rápida. Ao mesmo tempo um recorte histórico desses anos de transição que foram a base para o mundo em que vivemos hoje. Uma ótima viagem no tempo e no cenário inesquecível do nosso amado Rio de Janeiro!
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