Malditas borboletas no jardim.
Durante a vida eu sempre ouvia todo mundo falando aquela máxima de que: Cuide do seu jardim, pois as borboletas virão. Usavam isso como dica de relacionamento, pois a se pessoa ama a si mesma, naturalmente as pessoas ficariam interessadas nela para um relacionamento amoroso. Isso me faz pensar no meu maracujá que plantei: borboletas malditas atraídas por ela botam seus ovos e lagartas comem as folhas. Que ódio.
Mas voltando ao ditado: tenho lá minhas dúvidas quanto a isso.
Acho que se a pessoa chega a um nível tão grande de amor próprio, não vai querer se estressar em entrar em um relacionamento. Tem muita gente que é muito feliz sozinha, tem essa autosuficiência e não precisa de absolutamente ninguém. Pode até ter pessoas que eventualmente se interessam por essas pessoas, mas o negócio nunca avança: a pessoa está tão bem consigo mesma que só de pensar no estresse, entrega, no quanto vai ter que abdicar, junto da falta de interesse, desiste logo de cara de qualquer enlace.
E claro, existe o outro tipo de pessoa que ouve esse ditado e tenta realmente cuidar do seu jardim, mas com o objetivo de conseguir um relacionamento. Afinal nossa espécie é um bicho bastante social, não somos solitários como algumas espécies. Parentes, amigos ou parceiros é algo que — ao menos teoricamente — nos fazem bem pois isso é um padrão que repetimos talvez desde antes do homo sapiens arcaico ter dado suas caras na África há umas três centenas de milhares de anos.
Afinal alguém já pensou em que tipo de borboletas a pessoa vai eventualmente atrair? Eu sou homem, e tô ligado na quantidade de mentira que um homem é capaz de contar para conseguir levar alguma mulher para a cama. E, julgando pelo que ouço dos meus amigos, quando a carência é grande, a ética de dentro do jogo da paquera é a primeira a ser jogada fora. Todo mundo já ouviu ou sabe de alguma estória dessas, não é nenhuma novidade, infelizmente.
Eu tenho muitos amigos que mudaram, e pra muito melhor, depois que encontraram sua parceira. Eram pessoas dos mais diversos tipos, fossem homens ou mulheres, que não necessariamente cuidavam do seu jardim. Seja por não verem a necessidade, ou mesmo por não quererem isso — e irem em busca de relacionamentos para tapar algum buraco em suas existências.
E como toda regra da vida, ainda bem que existem excessões!
Tenho uma amiga que ela era uma pessoa que tinha muito amor para dar. Embora nós dois nunca tivéssemos nenhum tipo de interesse amoroso um pelo outro, conversávamos sobre o que estava rolando. E eu via em como ela desejava ter um namorado, e mesmo quando éramos jovens, ela sempre tinha relacionamentos bem longos. Ela era católica, e bem religiosa, e durante o tempo que convivemos mais, ela estava namorando um rapaz igualmente católico.
Nas idas e vindas da vida eles terminaram e acabei perdendo o contato. Amizade é assim mesmo, quando é verdadeira podem passar anos que parece que se viram na semana passada. Encontrei com ela por acaso no ônibus há alguns anos atrás e batemos um papo. Ela naquele momento estava namorando um rapaz que era espírita, mas que parecia estar bem empolgada.
Hoje esse homem é o marido dela. E os dois tiveram dois meninos!
E ela nunca foi uma pessoa que combinava com a solteirice. Era uma dessas pessoas que podem até ser incompletas, mas que naturalmente se completam quando estão com alguém. E eu acho isso bonito, pois ao contrário do ditado do cuide do seu jardim, no caso dela era mais algo como ter uma outra pessoa para cuidar do jardim junto dela. Pois é exatamente assim que vejo esse casal: ambos se complementam de uma forma, em seus defeitos e qualidades, que nunca saberiam sozinhos o que é "amar a si mesmo", pois possuem esse amor mais extrovertido — de dentro pra fora, expansivo — e isso é uma característica própria da personalidade deles que esse ditado que tenta jogar todo mundo no mesmo lastro não contempla.
Tem pessoas que simplesmente não possuem esse amor próprio, e ao mesmo tempo não sentem a necessidade de cuidar do jardim de maneira solitária. Mas ao mesmo tempo essas pessoas talvez possuam um coração tão grande e cheio de amor que eventualmente não caiba dentro de si mesmas, e sentem a necessidade de encontrar algum parceiro para que possam depositar esse sentimento. E ao mesmo tempo serem preenchidas por alguém na mesma situação.
A vida e as pessoas são muito complexas, e toda a tentativa de dizer que exista uma única verdade é perda de tempo. Cada pessoa tem uma vivência e uma visão de mundo única, e é essa diversidade que enriquece o mundo.
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