Livros 2021 #20 - Não é um rio (2021)


Volta e meia a gente se depara com livros que não gosta. Mas a gente tem que se questionar o que não agradou — e saber admitir quando apesar de não ir a favor do nosso gosto pessoal, seja uma obra boa. Acho que um livro que brinca com a nossa percepção demais acaba esbarrando na nossa própria incapacidade cognitiva — afinal consumimos histórias similares ao conto de Gilgamesh há pelo menos alguns milênios. E quando um livro brinca com linhas do tempo, e não mostra algo estruturado em um passado-presente-futuro, será que isso o faz necessariamente ruim?

Como eu disse, isso não tira o quão genial é a argentina Selva Almada em sua obra Não é um rio (2021). O livro conta a vida de pessoas que vivem, tiram o sustento, protegem e devastam, morrem, amam, ao longo de um rio. Um rio que funciona quase como um personagem onipresente, que sempre estará lá olhando as pessoas de cima, julgando o que acontece ou não.

O livro brinca muito com a linha do tempo. São estórias que ficam em um vai-e-vêm bem peculiar, do presente indo pro passado, e tocando o futuro. E muitas vezes sem a gente sequer perceber. Personagens dos mais diversos tipos, desde um pescador que mata uma arraia com balas, um xamã local, uma mãe neurótica, prostitutas, adolescentes, crianças, entre tantos outros. Muitas dessas trajetórias possuem momentos que interagem entre si.

Mas o esquema do livro — bem curto, diga-se de passagem — são as linhas do tempo. Por vezes fica um pouco confuso, mas talvez seja exatamente essa a proposta do livro: Não é um rio, como o título diz. E sim uma história que flui como as águas, ramificando em riachos e córregos, e talvez o esquema mesmo seja nós mesmos decidir que caminho trilhar, e definir qual é a nossa escolha.

Deixe ser levado pelo barco e faça suas escolhas. Esse trajeto será único pra você.

Nota: 5

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