No rain, can't get the rainbow.
Acho que exista talvez um pingo de esperança em mim ao escrever textos como esse. Pode ser as monções do verão de dezembro, que parecem querer lavar todas as coisas ruins para começar um novo ano. Afinal, sem a chuva, não se consegue o arco-íris. Mas esse ano me trouxe também algumas certezas de que as coisas não irão mudar ou melhorar. Entrando no segundo ano de pandemia, um retardado como presidente, e eleições, 2022 já começou sem ninguém dizendo que será o "seu ano".
Hoje antes de almoçar, enquanto minha mãe fritava a carne, vi o meu pai virando um copo de cachaça, como ele sempre faz. O mesmo copo seguido da cara azeda de quem faz ao sentir o ardor descer pelo corpo. Ver cenas como essas, me deixam sem um pingo de esperança de que "haverá um arco-íris depois dessa chuva".
Me lembro de quando peguei Covid, e enquanto eu estava ardendo de febre trancado no quarto, meu pai ia comer o churrasquinho e beber, mesmo infectado, e, óbvio, sem máscara. Todo dia que ele está em casa me enfurece ver ele virando aquele maldito copinho de pinga. Pois infelizmente o álcool foi a droga que está na raiz de todos os problemas que tenho com ele.
Meu pai poderia ter sido um cara que brincava com os filhos, que sabia ouvir e aconselhar. Ele poderia ser um paizão mesmo, desses que leva os filhos para o parque no fim de semana, ou que jogasse videogame junto. Mas meu pai foi apresentado para o álcool muito cedo, e ficou dependente dessa maldita droga desde o começo de tudo, e ao invés de passar um tempo com a família depois que chegava do trabalho, era todo santo dia no boteco, chegando gritando com todo mundo, dizendo que eu era um inútil que nunca seria nada na vida, e que eu nunca deveria ter nascido.
Parece que ele tem a capacidade de acabar com toda esperança de mudança, antes mesmo dela acontecer. Parece que meu pai não é o arco-íris que surge depois, e sim mais e mais nuvens, uma tempestade, talvez um ciclone: a coisa apenas piora cada vez mais.
Acho que preciso voltar na terapia. Preciso ter ao menos um pouco de coragem, ou alguém para desabafar, para que eu consiga ao menos tentar ter esperanças de que a chuva passará e um arco-íris vai aparecer. Seja na relação com meu pai, na minha própria vida pessoal, ou na esperança desse país enfim tomar jeito e parar e eleger esse idiota na presidência, que matou mais de seiscentas mil pessoas até agora.
Esses dias também juntou todo o meu pessimismo de final de ano, com várias pessoas querendo me encher o saco. Talvez eu até estivesse bem em quase todos os outros dias do ano, exceto talvez meu aniversário, mas fico ainda mais sem chão quando povo fica querendo falar comigo nessas duas ocasiões: desligo o celular e não quero ver ninguém. Faço isso pela minha sanidade. Posso ser a pessoa que tenta ouvir todo mundo, mas não tenho ninguém para me ouvir.
Ás vezes o que eu mais preciso é ser como esse pato dessa foto que tirei. Ficar sozinho. E nessa solidão eu não estou triste: estou tentando recarregar minha bateria. Da mesma maneira que faço agora que coloquei o carregador desse computador na tomada. Apenas não insistem. Não quero a ajuda de ninguém. Não quero ninguém me dando soluções do tipo "faça isso", ou "faça aquilo". Se vier fazer isso, aliás, sugiro que vá para o quinto dos infernos. Não quero soluções para os meus problemas. Quero um saco de pancada para que eu possa fazer com alguém o que todo mundo sempre fez comigo: falar um monte e que o outro apenas me ouça.
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