Livros 2022 #1 - Drácula (1897)


Quem me conhece sabe que se eu tiver que escolher, sempre vou puxar sardinha para os clássicos. Foi por indicação do meu amigo Odirlei que resolvi dar uma chance para esse clássico de Bram Stoker. Por mais que o conde Drácula e vampiros sejam ícones da cultura pop, foi uma excelente viagem saber da onde que vieram. Numa edição linda da editora Darkside, pensada nos mínimos detalhes, com uma ótima tradução e conteúdos extras, conheci esse clássico da melhor maneira possível.

O livro não é uma história tradicional com um "era uma vez". O livro todo é contado por meio de diários de todos os personagens, contando os acontecimentos pelos seus pontos de vista, e cada um com um estilo diferente:

Temos o Jonathan Harker, um advogado que vai para a Romênia cuidar da papelada da mudança do Drácula, que vai morar no Reino Unido; a Mina Harker, sua esposa, e na minha opinião a real protagonista do livro; sua amiga Lucy Westenra, que vai ter a vida cruzada pelo conde; Arthur Holmwood e Quincey Morris, dois coadjuvantes pra meio tapar buraco; o médico Dr. Seward e seu paciente Renfield; e por último, e não menos importante, o doutor Van Helsing, mestre e doutor em trocentas coisas, e o cara que tem solução para tudo — inclusive sobre como lidar com o vampiro.

E como os capítulos do livro se dão na forma dos diários desses personagens acima, a gente tem uma sensação de poder viver aquele momento na pele deles. Algo como o que "A Bruxa de Blair" fez, mas em forma de livro: são os relatos de todos os personagens que vão fazendo a história se formar na nossa cabeça.

A questão do terror também é muito presente. E isso faz a gente ficar muito preso ao livro. Existe muita tensão e mistério. A gente nunca sabe o que o conde Drácula vai fazer ou onde vai aparecer. E quando vão aparecendo vítimas, a gente fica na dúvida se vai vê-los até o final do livro. Sim, o livro contém mortes, violência, e sangue, e acho que deve ter chocado muito a sociedade vitoriana na época.

Embora hoje vampiros (e o próprio Drácula) sejam ícones da cultura pop, e todo mundo sabe mais ou menos o que os fazem ser vampiros, é interessante voltar para o início e perceber pontos únicos que foram se perdendo ao longo do tempo: coisas como sugar sangue, e não ter reflexo no espelho são clichês atemporais; mas o vampiro também tem algo que o aproxima de um morto-vivo, e é alguém bem feio e de aparência decrépita, não como o vampiro que brilha todo engomadinho do Crepúsculo.

Uma escolha, aliás, feita por Stoker — e mudada no último segundo antes do lançamento do livro. O Drácula quase foi lançado com o nome de "The Un-dead", ou "O desmorto", em português, por conta da sua imortalidade por meio do parasitismo de sangue. Essa informação (e tantas outras) são oferecidas para a gente na ótima quantidade de conteúdo extra do livro: a história do Drácula mesmo termina na página 417. Dali em diante, o livro nos presenteia com mais de cento e cinquenta páginas com entrevista com Bram Stoker, uma estória inédita com o Drácula escrita pelo mesmo, um lindo posfácio e prefácio escritos pela acadêmica Marcia Heloisa, mostrando sua pesquisa sobre o livro e diversas curiosidades, imagens dos filmes mais famosos baseados no livro, e algumas páginas de um manuscrito perdido do próprio Bram Stoker com suas anotações e alterações.

Uma editora boa apenas traduziria e adaptaria com carinho o texto. Mas essa edição da DarkSide é pra guardar na estante e revisitar com carinho no futuro, pois é uma obra feita com muito carinho do começo ao fim!

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