Livros 2022 #2 - Travessuras da menina má (2006)

 


Vamos lá de primeira leitura do clube do livro desse ano! Livro de um vencedor do Nobel de literatura, o peruano Mario Vargas Llosa. Acho que ver alguém que ganhou um Nobel tem sempre aquela aura de divindade, a gente sempre vai com uma expectativa bem maior do que um vencedor do Jabuti, por exemplo. E ás vezes a gente acaba com essas expectativas nem sempre correspondidas. Mas o livro é bom, apenas não achei excelente ou fora de série.

O livro conta as idas e vindas do casal Ricardo, um jovem peruano que trabalha como tradutor/intérprete e uma chilenita misteriosa. Lembra muito a relação do Forrest Gump e da Jenny: um bocó e uma desapegada. Mas muito mais hardcore, em todos os sentidos. O que chega ser um bocado cansativo: os dois são muito diferentes, e vivem em uma eterna ida e vinda em sua relação, se juntando e se separando pelos mais diversos motivos, nos mais diversos países.

Gosto muito dos coadjuvantes nesse livro: a estória de cada um deles é muito mais interessante que do casal protagonista. Tem desde um cara envolvido com os guerrilheiros do MIR, até um hippie no Reino Unido. O livro aliás tem muitas doses de história, pois se passa em um período bem abrangente no século XX, com os personagens vivendo os dilemas e particularidades de cada época.

Llosa é um dramaturgo, e sabe como ninguém contar uma boa estória. Ele nos envolve em uma prosa muito bem elaborada, com vários clímaxes durante as passagens, o que vai ficando cada vez mais profundos e marcantes conforme o livro vai avançando. Gosto muito das descrições das diversas cidades onde a trama se passa, e em como a gente sente a atmosfera de cada uma delas enquanto lê. E como disse, por ele ser um dramaturgo, o livro tem um bom andamento, não chega a ser cansativo ou arrastado, é uma ótima leitura para se entreter com essa briga de gato e rato entre o Ricardito e a chilenita.

Como ponto fraco, o livro tem muitas passagens bem tristes e frustrantes. O protagonista, por constantemente ter desilusões amorosas, dá muita pena e as cenas em que ele está ruim são bem chatinhas de se ler. Talvez intencional por parte do autor? É possível. Uma vez que o protagonista é um grande idealizador romântico, ao mesmo tempo que ele fala coisas lindíssimas enquanto está apaixonado, ele também desce ao limbo do fundo do poço quando está na pior. É uma montanha russa um pouco cansativa ás vezes.

Também não gosto muito de descrições repetitivas que permeiam o livro. Por exemplo: constantemente o corpo da chilenita é descrito como tendo "seios empinados". Se eram assim tão eretos, não sei. Mas cansava ver que sempre os mesmos detalhes do corpo eram destacados. Essas descrições fazem parte do nosso imaginário como leitor. Um escritor que descrevia o amor de uma forma tão profunda, deixava a desejar quando o assunto era o corpo da mulher.

Mas como disse, é um livro bom. Não é um livro extraordinário. Um romance divertido e bem escrito. Não sei o que o faz tão especial em ganhar algo tão nobre como um Nobel de literatura.

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