O progresso tarda, mas nunca falha.


Existe algo inexplicável, mas inerente, como uma rede de wi-fi que liga nossos encéfalos de maneira invisível, que é capaz de impulsionar a espécie humana em degraus de evolução de maneira conjunta, fazendo com que mesmo povos separados e sem contato, pudessem desenvolver independentemente da mesma maneira, dando os mesmos passos na mesma direção. Foi assim com a metalurgia, por exemplo. Humanos, de maneira independente, há cinco a seis mil anos atrás, descobriram a fundição de metais — fosse pela mistura de cobre e estanho (que nascia o bronze) ou mesmo o ouro, pelos incas.

Parece que saltos evolutivos, como esses que citei acima, acontecem em conjunto, em todos os cantos do nosso globo, como se algo invisível ligasse a todos nós. Eu acredito muito nisso.

E hoje, com toda essa ligação literal que todos temos, especialmente por meio da internet, parece que essas mudanças também se tornaram mais rápidas. O que antes levavam milênios para acontecer, hoje acontece em décadas. Mas a característica primordial continua presente: a necessidade de que essa mudança se dê de forma coletiva, em grupo, sem limites de língua ou etnia. E isso nos traz muita esperança.

Quando acordei ontem e fiquei sabendo da falecimento do astrólogo Ovalo de Cavalo*, senti que era o começo da mudança. Tive uma real esperança de que poderia ser quase como o enterro do que se mostrava ser o pensamento mais retrógrado para dar início à mais um passo da nossa evolução. É evidente que na nossa sociedade não existem vácuos — alguém vai tomar o lugar do Ovalo — mas quando alguém que era o símbolo desse retrocesso morre, parece que a onda de progresso volta forte e volta a nos unir em direção a um futuro cheio de esperança.

Pode ser necessário que tenha que se dar um passo para trás para avançar dois em frente. E acho que esse país está sentindo isso desde as últimas eleições presidenciais. Mas quando eu vejo que grande parte da sociedade está aceitando e respeitando mais a diversidade LGBTQIA+, o feminismo cada vez mais pontuando mudanças e trazendo mais harmonia, movimentos antirracistas de todas as espécies conquistando resultados, e o movimento ambientalista cada vez mais forte e nos ensinando sustentabilidade, e outras diversas coisas lindas que acontecem simultaneamente no mundo justamente para enxotar todo esse retrocesso, faz entender o quão isso tudo foi importante também para que melhorássemos como espécie também.

Talvez na época que o primeiro ser humano esqueceu cobre e estanho na fogueira, e viu que um metal novo havia surgido, ou quando o inca viu o ouro e viu que dava pra fazer muitos utensílios com esse material abundante amarelo e reluzente, houve quem dissesse que queria que as coisas continuassem como antes, com a gente usando ainda armas de pedra lascada ou pedaços de madeira. Mas o passo adiante pode até demorar, ou tropeçar, mas ele sempre chega.

E com a morte de Ovalo de Cavalo, um dos gurus desses retrógados, vejo a esperança de que isso tudo seja o começo do fim dessa era de trevas e ignorância ridícula que estamos imersos. É claro que não foi a primeira, e tampouco será a última — a história sempre nos mostra que são como ondas, ondas nacionalistas vem e vão — mas assim como não conseguíamos ver uma luz no fim do túnel enquanto estávamos perdidos na escuridão de uma sociedade seguindo por um caminho claramente errado, preconceituoso, burro, e hipócrita, vejo que como uma faísca de esperança que nos traz um fiapo de luz lá longe, e a esperança ressurge.

E mais e mais dessas luzes cheias de bondade vão começando a surgir independente. Pessoas como ele vão morrendo, e não vão sendo substituídas. O novo vai chegando e tomando forma. O hominídeo que usava as ferramentas de pedra lascada vão se rareando, e a gente vê como a vida é mais fácil com a metalurgia. E vamos dando passos evolutivos, nossa sociedade vai amadurecendo, até que chegue esse momento utópico de igualdade onde tudo o que julgamos que nos fazem ser diferentes não exista mais. E que tudo isso que tivemos que criar para chegar na igualdade não seja mais necessário, pois o antigo já se foi. Na nossa frente, temos apenas o futuro nos esperando.

* - É um saco, mas se eu colocasse o nome dele, os robôs do gado com certeza encheriam de discursos de ódio esse mero blog, que não é inclusivo — e sim, exclusivo. Exclusivo para quem compartilha dessa visão e entende que o progresso chega, mesmo que tenhamos que dar antes um passo para trás.

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