Livros 2022 #4 - O ano do pensamento mágico (2005)

 


A morte nunca é algo fácil de se lidar. E talvez o processo de luto seja uma das coisas mais difíceis de se lidar. Porém temos artistas, que usarão tudo o que de melhor sabem fazer para expressar isso tudo por meio do melhor que sabem fazer. E ter acesso a esse compilado de memórias biográficas sobre o próprio processo de luto da escritora Joan Didion é algo que marca nossos corações de forma definitiva.

Esses dias eu tive uma briga bem feia com alguns amigos. Comentei que coisas de relacionamento que viveram são coisas que eu, que até hoje nunca namorei, nunca tive a chance de vivenciar. E que era ótimo que todos ali nunca ficaram solteiros, mas quando percebi que a zueira não parava, resolvi dar um tempo nessa amizade.

Dei essa volta toda porque acho que o livro "O ano do pensamento mágico" da Joan Didion seja de facto algo voltado aquelas pessoas que estão com relacionamentos firmes. Afinal logo do começo do livro mostra a morte súbita do próprio marido da Didion — o escritor John Gregory Dunne — e o longo processo de luto dela, tentando recobrar a vida, enquanto outras coisas vão surgindo e acontecendo, inevitavelmente.

Escrevendo uma biografia não linear, onde ela vai criando capítulos todos meio temáticos, mostrando cada passo do enfrentamento da perda. E sentimentos vão emergindo em sua escrita: desde a culpa por não ter conseguido salvar o marido de um infarto fulminante e inesperado, como a saudade de todas as memórias. E a incerteza do futuro, com a solidão se mostrando uma infeliz consequência a ser superada.

Fico imaginando quem está com um parceiro refletindo enquanto lê o livro. Talvez olharia para seu namorado/a ou cônjuge e pensaria como seria consigo mesma quando isso acontecesse. Como eu citei acima, mesmo eu que nunca tive um relacionamento sério fiquei emocionado em diversas partes.

A verdade é que a dor é muito similar com a qual muita gente deve ter sofrido. Mas só mesmo uma autora com esse talento ímpar para transformar em arte. E fazer a gente sentir o que ela sente, entender que mesmo com suas particularidades, os sentimentos são condizentes com o que muita gente já passou. E mesmo quem nunca passou por isso, tem o coração tocado da mesma maneira.

E por ter o contato com algo tão profundo, que apenas uma pessoa com essa capacidade de escrita e abstração pudesse fazer, me fez sentir muito grato por ter a chance de conhecer essa magnífica obra.

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