O sabor da felicidade, o aroma que preenchia minha alma.


Uma nova notificação havia aparecido. A hora que apareceu, não tenho ideia, apenas vi que uma nova pessoa havia me adicionado. Entrei no perfil e vi que tínhamos uma amiga em comum. Antes de aceitar seu pedido de amizade fui perguntar quem era ela. Foi em algumas postagens sobre política que eu comentava na minha amiga que surgiu o interesse dela em me conhecer. Brinquei com ela dizendo que ela não sendo bolsoranista eu adicionaria sem problema. Ela riu, dizendo que não era. E assim tudo começou.

De início ela era muito interessante. Ela tinha uma veia artística muito forte, ela gostava de pintar e tinha um talento enorme para modelagem. Sempre muito simpática e disponível, gostava de rir junto dela. Toda aquela bondade e afeição me conquistariam, era apenas uma questão de tempo. Mas duas coisas me fisgaram e me deixaram muito feliz.

Eu lembro que uma vez comentei que gostava muito de literatura. E ela também gostava muito, inclusive gostaria de migrar para a vida acadêmica no futuro. Ela perguntou quais eram meus livros favoritos de todos os que já li. E eu comentei que não sei dizer a lista exata, mas o primeiro lugar está "Os miseráveis" no topo, insuperável. E ela me mandou uma foto da sua estante dizendo que também era o dela. Quando vi a foto da lombada do livro em destaque, percebi na hora que era a edição da extinta Cosac & Naify — a edição que inclusive foi na qual eu conheci "Os miseráveis", anos atrás. Ela havia ganhado um espaço enorme no coração logo ali.

O segundo ponto que mais me atraiu nela era sua inteligência. Eu sempre sofri muito por gostar de estudar, por ser uma criança muito nerd. Infelizmente, de maneira generalizada, a sociedade não valoriza muito quem estuda ou é inteligente — mas sim quem é esperto, e vê oportunidades de se dar bem. Mas com essa garota não era assim. Eu via muita coisa que eu poderia aprender com ela, e eventualmente ensinar umas duas ou três coisas também. Mas pela profundidade de nossas conversas eu via como poderia ser uma relação duradoura nesse sentido.

E como se essas duas coisas não fossem ótimas por si mesmas, algo extra se mostrava como a cereja do bolo: comentei com ela que, por conta de crises de ansiedade, eu costumava não ficar no celular o dia inteiro. E que mesmo que eu demorasse pra responder, não era por falta de interesse. Mas sim para reter os horários para que eu não perdesse o dia no celular sem conseguir fazer nada.

Enfim, eu tinha sido fisgado por ela! A chamei para tomarmos um café num shopping para nos conhecermos. E ela topou.

Eu lembro que no dia chovia muito, e se eu não estivesse com uma vontade real de conhecer ela pessoalmente, eu não teria ido. Na ida eu me machuquei com o guarda-chuva, e tive que passar numa farmácia para conseguir um band-aid. Apesar de todo o temporal, cheguei com um ou dois minutos depois do combinado. Fui ao banheiro e quando saí, lá estava ela na cafeteria que combinamos.

É curioso como a química acontece quando menos esperamos. Quando tiramos nossas máscaras para tomarmos nosso café, era quase como se conseguíssemos ver a alma um do outro. Havia algo confortável lá, no meio dos sorrisos, risadas, e conversas. Aquela troca era algo muito gostosa. Ela comentava sobre todos os gatinhos que ela resgatava, e sobre diversas estórias e acasos que haviam acontecido. Por conta de toda essa assistência a animais abandonados, ela era inclusive vacinada contra a raiva.

E ouvir aquilo tudo — e também comentar algumas coisas sobre mim também — me lembrou de como é enriquecedor quando temos a chance de entrar no universo e descobrir as vivências de uma pessoa. Como cada pessoa tem muitas coisas para nos ensinar, e ampliar nossa visão de mundo. Eu só conseguia admirar mais e mais aquela mulher, e nem tinha, sei lá, algumas semanas de nos conhecermos online e alguns minutos de conversa ao vivo?

Ela queria que fôssemos para a casa dela, assistirmos a um documentário que ela estava me prometendo há semanas. Demos um passeio numa livraria ali perto, mas como o tempo estava fechado e estava ficando tarde, decidimos voltar. Sem antes passarmos em um bazaar para que ela comprasse algumas coisas para uma pequena reforma em sua casa.

Quando chegamos em sua casa, ela pediu uma pizza, e conheci todos os gatos e a cachorra que ela tem. Conheci também um casal de amigos que dividem a casa com ela, ótimas pessoas, que conseguimos trocar muitas ideias. Como já era tarde, fomos para a sala assistir o tal filme.

E por incrível que pareça, assistimos até o final. Era o documentário "A artista e o ladrão", sobre a pintora tcheca Barbora Kysilkova que tem suas obras roubadas pelo norueguês Karl-Bertil Nordland. Na vida real eles se conheceram, e apesar da circunstância, constroem uma grande amizade. Um filme lindo, que me fazia olhar ainda mais admirado para ela, por ter tanta sensibilidade em escolher algo tão marcante para assistirmos juntos.

Abraçados, fazendo carinho um no outro, percebi o quão bom era isso. O quão foi danoso para mim ter me privado disso tudo, de todos os anos que talvez teriam sido diferentes se outras escolhas tivessem sido feitas. Nossas mãos se cruzavam e ficavam se acariciando. Sentia o corpo dela tocando no meu, e meu coração não parava de bater forte. Uma sensação de felicidade dominava cada célula do meu corpo, e vivendo aquilo tudo, tentava gravar tudo em minha memória, pois seria algo bom de se revisitar. Algo lindo de se recordar.

Então era aquilo mesmo? Como pude me esquecer do quanto aquilo era bom? E não havia nenhum toque erotizado ou malvado. O que havia ali para quem via de fora eram dois corpos unidos um do lado do outro. Mas por dentro talvez eram nossas almas que ficavam fazendo um intercâmbio de sensações e sentimentos, que bagunçavam nossos sentidos humanos, fazendo tudo ser envolto por uma camada de um envolvimento de puro contentamento que naquele momento preenchia nossos corações.

E ainda sequer havíamos nos beijado. Brinquei com ela dizendo que era um saco sair para encontros no meio da pandemia pois a máscara impede de nos beijarmos. E nesse momento, depois que o filme já tinha acabado, e estávamos sozinhos na sala, ela avançou e me beijou.

E assim ficamos. Como dois amantes, curtindo um ao outro. Ela beijava muito bem, e eu fiquei feliz em ver que ainda me lembrava bem de como se fazia — afinal, já tinha quase dez anos desde a última vez.

Conforme nos beijávamos e as coisas iam evoluindo, só conseguia me deixar levar por aquele momento, guardando em minha memória cada segundo daquilo tudo.

Ela tinha um aroma muito gostoso, e a sua pele era macia como um veludo. Tinha um calor confortante, algo que conseguia sentir quando nossos corpos se tocavam. O cheiro dela era talvez apenas de um bom sabonete, mas era uma coisa muito gostosa. Eu, que sou uma pessoa muito olfativa, ficaria o dia inteiro sentindo aquele cheiro delicioso, quase como se tivesse sido feito para mim.

E ao mesmo tempo ela era muito carinhosa. Lembro de quando ela pegou no meu sexo com suas mãos meio forte, e eu falei baixinho para ela dizendo que fosse mais carinhosa, e ela imediatamente mudou e estava novamente doce. E a sensação era maravilhosa.

Fazia muitos anos que eu não fazia amor. Havia esquecido como aquilo era bom. Todo aquele escurinho, o mistério em ver onde as coisas estavam, ouvir as coisas bonitas em nosso ouvido, os gemidos surdos enquanto transávamos. Havia aquele suor, o atrito dos nossos corpos um em cima do outro, e todo o prazer da penetração. Ao mesmo tempo haviam também as pausas, onde ficávamos abraçados, retomando o fôlego, e rindo um da cara do outro.

Aquele corpo dela me dava muito tesão. Ela era toda fofinha, bem construída, com um porte elegante e forte. Eu passava minhas mãos e alisava cada centímetro daquela linda escultura. Enfiava minha boca em seus mamilos e os sugava com carinho enquanto ela gemia. Era bem baixinha, mas talvez mais da metade do mundo seja de estatura inferior à minha. Mas isso nunca foi problema, pois ela era robusta. E me aguentava bem.

"Soca", ela ordenava. E eu a penetrava em longas estocadas até o fundo. E aquilo tudo era um júbilo imenso. Fazia tanto tempo que eu não sentia um orgasmo, que eu tentava segurar ao máximo. Talvez eu tenha segurado até demais, pois nós dois nos cansamos e eu não consegui ejacular. Mas não quer dizer que não teve prazer. Sexo não é apenas a penetração, tem muito mais coisa, é todo o romance, os beijos, os cheiros, um grande conjunto, uma grande orquestra que deve ser aproveitada e desfrutada como um conjunto — e não apenas o clímax.

Dormimos abraçados. Ou melhor, talvez ela tenha dormido bem mais do que eu. Eu lembro que de minha parte eu estava preenchido com tanta felicidade e realização, que passei grande parte da noite acordado. Apenas vivendo aquele deleite, sem acreditar em quantas oportunidades de ter aquilo eu deixei passar, e em como aquilo era bom. No quanto aquilo me preenchia. No quanto ter aquilo me dava coragem e mudava a maneira com que eu via a vida. No quanto aquilo tudo era exatamente o que eu precisava: ter uma companhia para não apenas ter uma noite cheia de amor, mas também para combater essa solidão eterna que eu vivia tendo que lutar contra.

Mais cedo ela me disse que era muito bom ser abraçada por alguém mais alto. Mas naquela noite, mesmo quando meu braço sobre o qual ela estava debruçada se cansava, e eu trocava de lado na cama, ela me abraçava com ternura, me envolvendo em sua conchinha, e era eu quem se sentia acolhido. Com um coração explodindo em ternura e euforia. Era um sentimento tão bom, que fazia tanto tempo que eu não sentia, que eu não conseguia pegar no sono.

Era apenas a tal da felicidade.

Como um oásis, no meio do deserto sem vida que é a nossa fraca existência.

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