Matrix Resurrections (2021)
Nesse mundo onde essas sequências ou dão muito certo (como Cobra Kai), ou dão muito errado (Star Wars do JJ Abrams), é muito arriscado você tentar reavivar algo. Tive receio de quando disseram que iriam fazer um novo filme de Matrix. Pra mim tudo havia terminado lá atrás, no Matrix Revolutions. Mas ontem enfim assisti. E vi que o filme talvez signifique algo muito mais profundo em mim do que imaginava. E que foram necessários esses quase vinte anos para que fosse ainda mais lá no meu âmago.
O filme se passa entre vinte ou sessenta anos desde o último filme. Depende da contagem, se é a contagem da Matrix ou do mundo real, respectivamente. Depois que Neo derrotou Smith a pedido do Rei das Máquinas, uma outra máquina, o Analista (Neil Patrick-Harris) restaura o corpo do Neo e ressuscita a Trinity, e os deixa presos em uma Matrix em constante loop, com dias parecidos, uma rotina que não muda, aquele mundo todo maquiado que só as máquinas sabem fazer.
A verdade é que isso é ótimo para as máquinas, pois manter os dois presos naquela Matrix privativa faz com que eles produzam muito mais energia do que aquela renca de humanos vivendo em suas simulações.
Parece que até teve vários anos de paz, como o próprio Arquiteto havia prometido no final do Revolutions. Mas a Matrix foi resetada mais uma vez, tentando, obviamente, acabar com a futura existência do Escolhido.
Acontece que Zion foi reconstruída sob o nome de Io, e de lá, uma nova habitante chamada Bugs, junto do operador Seq, vão atrás do lendário Neo. Eles eventualmente conseguem entrar na Matrix em que estavam rodando, e lá encontram um Neo vinte anos mais velho, e nesse momento eu tive várias reflexões.
Cara, já se passaram vinte anos. Eu era uma criança achando aquilo tudo sensacional, deslumbrado com o mundo de Matrix. Até hoje eu assisto muito a trilogia, pelo menos uma vez por ano. E todas as vezes parece que descubro algo que não percebi antes. Quando eu assisti ao Ressurections, e vi aquela tonelada de referências, flashbacks, atores e atrizes voltando aos seus papéis depois de tantos anos, foi como reencontrar amigos depois de duas décadas.
O mais interessante é que se o Neo lá nos primeiros filmes fosse o cara curioso, que toma a pílula vermelha para se jogar e sair da Matrix, nesse novo filme ele está amedrontado. Toda essa passagem do tempo fez um Neo cheio de dúvidas e inseguranças, achando que não consegue mais fazer nada, e acho que esse filme trouxe reflexões bem fortes pra mim pessoalmente.
Porque eu era jovem quando assisti aos primeiros filmes. E eu era uma pessoa cheia de sonhos, querendo realizar tudo no mundo, querendo fazer e acontecer. E hoje sou apenas um fracassado, um grande inútil, desempregado, que tá com trinta anos e nem teve uma namorada. E é claro que eu me vejo como o Neo, como um cara velho, sem muita utilidade. Sem muitos sonhos ou anseios. Que não vê mais muito sentido na vida.
O curioso é que Neo tem muita resistência para sair da Matrix. Ele tem medo, ele acha que não é com ele, ele não tem a mesma coragem que tinha quando era mais jovem. O que o move mesmo é o sentimento, é o amor.
Fiquei pensando o quão forte ficou a mensagem do filme. De que talvez não tenhamos muito impulso para enfrentar os problemas da vida, que ficamos estagnados, que temos medo de tentar sair da Matrix que nos cerca, mas quando temos uma parceira, alguém que preenche nossos corações, isso tudo nos dá coragem. Talvez seja pelo facto de que essa pessoa nos completa, e se nos sentimos vazios em nossas vidas, fica difícil encontrar algo que preencha tanto quanto um amor é capaz de preencher.
Depois que Neo é resgatado, ele pede para voltar para Matrix com um plano de salvar Trinity, que também está presa no mesmo loop que ele. É então que ela também encontra sentido naquilo tudo, percebe que é tudo uma simulação, e se junta ao Neo para fugir de lá. E no final, numa cena em que eles estão encurralados no topo de um prédio, eles se jogam para fugir de lá e ela ganha os poderes do Escolhido também, e consegue voar.
Isso eu achei uma baita jogada bem ousada da roteirista, mas que no final de contas faz sentido. Não era apenas o Neo o primeiro e único Escolhido. O Escolhido nasce como uma anomalia aleatória. Era muito mais uma questão dele acreditar que era o Escolhido do que nascer como alguém com poderes. E quando Trinity percebe que ela pode também acreditar nela, salvar o cara que ela é apaixonada, ela vira a segunda Escolhida.
Achei muito bonita a mensagem do filme. Eu estava muito hesitante, achava que iriam acabar com a franquia que eu tanto gosto, mas tenho que admitir: foi um filmaço. Adorei, chorei, gritei, e emocionei do começo ao fim.
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