Livros 2022 #8 - Guia de viagens pra dentro e pra fora (2021)
A proposta da Luísa Ferreira é escrever um livro que ela queria ter lido antes de viajar. E no começo eu pensava que seria um compilado de dicas de viagens — que antes de tudo, sim, o livro é muito bem servido disso — mas é muito mais que isso. Pra ser sincero acho que talvez seja a porta de entrada para muitas pessoas esse motivo. Mas quando terminei de ler hoje percebi que o livro é muito mais do que isso.
Além de dicas preciosas, muitas de coisas que nunca pensei, que vão desde a parte de compra da passagem, passando por escolha de hospedagem, como montar itinerário, e até algumas coisas que normalmente não presto muita atenção, como montar a mala, língua do local, e questões de segurança, acho que existem outros dois pontos que abriram muito minha mente enquanto me aprofundava nessa leitura:
O primeiro é um ponto sobre sustentabilidade e cultura local do lugar que visitamos. Em muitos trechos durante o livro ela nos coloca para questionar no nosso impacto como turistas quando viajamos, seja na questão ambiental, como também na questão cultural. Entender que estamos como visitantes nos locais, que ali vivem pessoas e elas querem continuar tendo qualidade de vida, ao mesmo tempo que recebem turistas na localidade. Isso também se passa pela cultura, pois cada povo tem origem e costumes únicos, e temos que respeitar e admirar toda essa riqueza, sabermos imergir em cada experiência, e entender que a viagem existe muito como transformação interna do que um mero item de consumo.
A filosofia do "ser" contra a do "ter", onde essa última está se provando insustentável para a vida no nosso planetinha azul. Isso inclui viagens. Ficamos ostentando viagens, as usando apenas para compras, ou para postarmos fotos nas redes sociais, e não nos abrimos para a riqueza da cultura local, e ficamos mais preocupados em consumir do que viver o que pode nos proporcionar.
E o segundo ponto, que me atraiu muito como leitor, é a qualidade que Luísa mostra como escritora! Em diversos trechos do livro, depois de tantas dicas, história, números e estatísticas, ela nos presenteia com algum texto ou poesia autoral da própria. É tudo tão gostoso de se ler, não tem como a gente não viajar junto (mas dessa vez, mentalmente) um pouquinho em cada palavra que essa genial pernambucana nos proporciona!
Lembro que teve um texto lindo perto do começo do livro onde ela comenta de memórias da sua infância, de uma viagem que ela fez com os pais pelo litoral nordestino. Ali não há nada em específico — não há nenhum roteiro turístico ou dados imprescindíveis — mas há muito coração. Um coração que ela compartilha de quando viajava com seus pais, os cheiros, gostos, as paisagens, e tudo o que conseguiu marcá-la a ponto de perdurar na memória: mostrando que a viagem é esse período de intenso viver, que marca nossa existência, mesmo que passem anos depois do ocorrido.
E outro, mais pra frente, onde logo depois dela comentar sobre mitos sobre viajar sozinho, ela escreve uma espécie de "Carta para quem tem medo de viajar só", onde ali senti quase como se eu estivesse tendo um diálogo interno, com todos aqueles "viaje se você tem medo, viaje para onde não conhece nada, viaje sem pensar no que os outros vão pensar", como se esses diversos "viaje" fosse uma espécie de ode à toda essa vontade de viver, como se nos encorajasse a desafiar aquilo que somos, vindo de uma pessoa que tem muito amor pela vida e verdadeira paixão pelo o que faz. Elementos essenciais que mostram o quanto de sinceridade existe em cada palavra desse magnífico texto.
Isso só para citar os dois que mais me tocaram.
É um presente poder ler todas essas coisas lindas que a Luisa escreve, e isso só inspira a gente ao ver o quanto de beleza existe no coração dessa minha amiga, alguém que não tem medo de mostrar o quanto se dedicou para tornar seus sonhos realidade e completar seus objetivos, onde a sua sinceridade foi o combustível que a fez chegar tão longe. Dizer que tudo isso é apenas inspirador é muito pouco. São textos que elevam nossa alma, uma joia lapidada no meio desse livro!
Quando recebi minha cópia do livro, no começo de fevereiro, adorei a dedicatória que a Luisa escreveu: ela agradecia por fazer parte desse sonho, e dizia para que eu nunca deixe de acreditar nos meus.
É verdade que eu não sou a pessoa mais positiva do mundo. Acho que posso até escrever uma ou duas coisas bonitas, mas internamente sou uma pessoa muito frustrada e com uma baixíssima autoestima. Mas quando li essa dedicatória, fiquei pensando na profundidade disso tudo.
Que é verdade que a vida é um mar de tristezas, derrotas, e erros. Mas é precisamente isso que abre espaço para o que fez com que nossa espécie evoluísse e chegasse onde chegou: sonhar. Foi por sonhar com pastos mais verdes que os seres humanos saíram das savanas africanas. Foi por tentar uma vida em um local que não inundasse muito que ele buscou áreas montanhosas. Foi por desejar ter uma vida melhor que eles navegavam para novos continentes. Esses sonhos só se realizavam pois havia algo que os frustrava, e os fizeram se mexer.
É fácil pegar e lê-lo agora que foi impresso. Mas fiquei imaginando as diversas semanas, meses, e anos que ela levou escrevendo, organizando, criando toda a diagramação, artes, e todo o imenso trabalho que dá para se criar uma obra dessas. E quando pensei nisso, vi o quão longe um sonho pode levar uma pessoa — mesmo que tenha que se dedicar, e até abdicar, de muitas coisas no meio do caminho.
Um sonho em que ela permitiu que nós pudéssemos viver junto dela. Foram 331 pessoas que acreditaram nisso, e com todo esse apoio, vimos esse projeto nascer e agradeço muito por tê-lo em mãos. Quando a gente vê que alguém conseguiu, que alguém chegou lá, não tem como não sentir o coração tocado, e a inspiração voltando com o desejo de voltar a sonhar nossos sonhos ao ver o de pessoas queridas ao nosso redor se tornando realidade. Que sejamos os elos dessa corrente maravilhosa!
E fica aqui a sugestão: eu compraria fácil um livro mais autoral seu, Luisa! Sei lá, algo como um diário com as melhoras estórias, como o que o Darwin escreveu a bordo do Beagle, haha! Esses escritos autorais possuem muita alma, sua escrita acolhe a gente e nos leva para viajar junto. E poder viajar por meio de suas palavras é um presente inestimável.
Muito obrigado por tudo, minha amiga!
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