Livros 2022 #9 - O que você está enfrentando (2020)

Tem uns livros que batem uma bad mesmo depois de ler. Talvez esse sentimento ruim seja algo bom de certa forma, afinal na matemática a gente aprende que menos com menos dá mais. Ou talvez seja essa estranha tendência humana de, ao ouvir as tragédias de outra pessoa, a gente comece a minimizar as nossas próprias tragédias. Independente disso, tenho que admitir que esse livro é muito bem escrito. E tem umas partes ali que tocaram profundamente em feridas minhas.

O livro que estou me referindo é o "O que você está enfrentando", da estadunidense Sigrid Nunez. O livro começa muito jogado, não fala direito sobre o que é. A narradora está ao mesmo tempo preocupada com a melhor amiga internada com câncer terminal, com o ex que está fazendo palestras cheias de polêmicas, e outras estórias menores, contendo de gatos até resumos de filmes.

Eu gosto muito desse início meio perdido de livro, a gente não sabe exatamente sobre o que vai tratar, e vai apenas seguindo o fluxo dos acontecimentos. É lá mais para a metade que o livro ganha foco: nos últimos momentos da amiga com câncer terminal, em tentar fazer a última vontade dela, que é morrer do jeito que ela deseja. E então o livro ganha forma e entramos nessa linha de história que vai norteando tudo até o final.

Livros pequenos em geral são sempre muito densos. Não sei se é a falta de páginas, mas em geral não tem muito descanso. E Sigrid Nunez repete essa receita: os temas vão se desenvolvendo na sua frente sem nem você perceber, um gancho aparece e te leva para uma outra história, que te leva para uma outra, e assim vai indo. O que eu levaria umas seiscentas páginas no mínimo, ela em pouco menos de duzentas trata de vinte vezes mais coisas.

Acho esse talento uma coisa excepcional. Jeferson Tenório e a Mariana Salomão Carrara fazem isso como grandes mestres!

Mas acho que o que mais me pegou foi um mero coadjuvante: o tal marido da narradora que é um antinatalista, uma pessoa que tem uma visão contra a natalidade humana — de que seres humanos são a doença desse planeta, que trazer mais um bebê no mundo, que vai consumir recursos, poluir o planeta, beber dois litros de água todo dia, e comprar um iPhone sem a necessidade de um. Isso sem contar com o perigo de se tornar um assassino ou genocida, é algo que não vale uma transa que resulte em uma gravidez.

Talvez eu ainda esteja na maré de pessimismo pós pandemia, ou talvez eu nem mesmo me recupere disso tudo. Mas eu lembro que levei inclusive para a minha psicóloga na última sessão de terapia isso, pois me causou um rebuliço interno imenso. Quem sabe foi por isso que eu demorei para escrever sobre esse livro.

Eu lembro do Leozinho que falava que uma filosofia estilo do Thanos, o vilão de "Os vingadores", de extermínio de metade da humanidade sem distinção, era talvez a ideal. Hoje existe muita gente, muito consumismo, e muita gente idiota. Vendo histórias como Death Note, entre tantas outras, onde questionam principalmente a necessidade de mais pessoas nesse mundo, alimenta ainda mais o meu pessimismo sobre os rumos que o Planeta e a Humanidade estão caminhando.

Fizemos mais seres humanos, mas não tem emprego para todos. O dinheiro está cada vez mais na mão dos 0,01% da população. A pobreza aumentou ainda mais, a poluição e o aquecimento global está acabando com nossos recursos e comida.

Eu vejo amigos tendo filhos e, embora eu dê parabéns, fico questionando se tá faltando camisinha. Ao mesmo tempo eu me deito com uma mulher e tenho medo de gozar e acabar a engravidando — mesmo usando preservativo.

Foi um gatilho muito forte esse personagem, e todos os questionamentos que ele coloca no livro. E quanto mais eu releio os trechos das falas dele sobre os motivos de não termos filhos e deixar a Terra ainda mais superpovoada, mais eu vou criando motivos e razões para alimentar isso tudo.

Ainda bem que essa semana tem terapia.

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