Livros 2022 #12 - Violeta (2022)


Minha primeira experiência com a Isabel Allende não foi boa. Já tentei ler duas vezes o "Longa pétala de mar", uma obra que minha psicóloga me deu de presente, mas nunca consegui avançar. Ainda bem que opiniões podem mudar, pois essa última obra dela, Violeta, é um livro de grande qualidade!

O romance conta a história de Violeta, uma jovem latino-americana nascida em 1920 — no meio da pandemia de gripe espanhola — e vive por cem anos, partindo desse mundo no início da pandemia da Covid-19.

De uma família muito tradicional, a del Valle, o livro divide a trajetória dela em quatro partes bem delineadas: Desterro, a Paixão, os Ausentes, e Renascer. Umas mais longas que as outras, mas o que importa é a grande viagem de sua trajetória. Com pitadas de um romance histórico, o livro além de tudo serve de reflexão para entendermos como chegamos aqui, especialmente como continente.

Embora Violeta seja latino-americana, ela não especifica exatamente onde ela está. Usando nomes de locais genéricos, que podem existir em diversos países na América do Sul, acredito que a intenção da autora foi que imaginássemos a Violeta como uma de nós: fosse o leitor argentino, peruano, chileno ou brasileiro. Muito também pelo facto de que todas as histórias dos países que a compõem possuírem muitos pontos em comum: que vão desde as consequências da Grande Depressão, passando pela onda nacionalista ali na Segunda Guerra Mundial, o curto período democrático depois, as ditaduras militares, e a globalização.

É muito difícil bater o martelo exatamente de onde ela está falando, pois são sempre analisando acontecimentos muito sutis que conseguimos ter uma noção. Mas acho que deixei me levar por esse mistério, mesmo ele não sendo um empecilho para o aproveitamento desse livro.

Digo isso pois Isabel Allende escreve muito bem. Você vê ali uma história muito bem contada, personagens muito bem construídos, e fatos com um ótimo ritmo e andamento. Mesmo sendo um livro em primeira pessoa, sinto falta de mais passagens introspectivas, falando de sentimentos e dando mais profundidade à Violeta.

Essas partes mais profundas existem, e quando você lê, não tem como não ter momento de pura reflexão sobre a vida. Mas eles não são tão numerosos como são nas obras da Elena Ferrante, por exemplo (ou talvez foi um equívoco meu ter lido paralelamente mais um episódio da Tetralogia! Acabei comparando!). Em muitos capítulos eu achei um desperdício ser tão factual e não ter tanto a amostra do coração da personagem — como esperaria em um livro todo escrito em primeira pessoa.

Outro ponto que achei que poderia ser diferente, é que Violeta parece uma personagem de novela das nove. Especialmente no "núcleo rico" da novela. Tirando algumas poucas partes onde ela tem dificuldades financeiras, a vida de Violeta é bem diferente da maioria de nós, latino-americanos: nunca lhe falta nada, mesmo vivendo em um continente tão pobre e desigual. Mas ao mesmo tempo é o que nós, pobres, gostamos também: conhecer histórias de ricos que dividem a mesma terra que nós.

Acho que o facto da Violeta ser uma pessoa de tantas posses, deixa a desejar na hora de criarmos um vínculo maior com ela. Eu não posso ir para os Estados Unidos quando eu bem quiser, ou menos ainda ficar me mudando de cidade em cidade. Viver cem anos, e com muita saúde, parece outro sinal dessa classe favorecida dela.

Mas ao mesmo tempo, isso atiça nosso imaginário de indivíduos pobres vivendo em um continente desigual: ver um de nós rico é quase como um fetiche, como é quando vemos as famílias que vivem no Leblon ou Copacabana na novela das nove. A gente sabe que nunca vai chegar lá, mas a gente fica interessado na vida deles do mesmo jeito!

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