Livros 2022 #13 - Amor líquido (2003)


Eu tinha esquecido do quanto eu amo filosofia! Reencontrar com isso que eu tanto amo, ainda mais com essa obra do Zygmunt Bauman, me levou para os tempos da faculdade onde eu vivia ali na prateleira de filosofia da biblioteca! Tudo isso despertado graças ao podcast genial do Professor Krauss, o KraussCast, que depois que eu ouvi, me influenciou totalmente a adquirir o livro, e me aprofundar na obra desse grande filósofo polonês.

Achei que precisava entender mais como o mundo funciona, especialmente sobre essa estranha forma de relacionar dos seres humanos na contemporaneidade. E minha ótima surpresa é que sim, o livro trata muito sobre laços afetivos, mas também fala de outros temas tão importantes quanto, como o urbanismo isolar cada vez mais uns dos outros, e o drama dos refugiados no mundo — isso já algo que Bauman pareceu prever que aconteceria lá atrás, em 2003.

Livros de filosofia são sempre textos muito bem estruturados em perguntas e respostas, que acabam se unindo para transmitir conceitos, e assim a gente absorve aquilo tudo por meio da reflexão. Não sei se algum pesquisador já discorreu sobre isso, mas sempre que tenho contato com livros de filosofia é da mesma maneira.

Tenho um pouco de dificuldade no alemão (ou sei lá que língua o Bauman usa nos seus textos), mas a editora Zahar fez um ótimo trabalho ao nos facilitar a vida, tentando traduzir ao máximo seus complexos conceitos. Como fazia muito tempo que eu não tinha contato com textos filosóficos, achei que eventualmente eu ficaria meio perdido, mas Bauman possui uma escrita bem acessível e simples. Quero conhecer as outras obras desse gênio!

O livro possui quatro capítulos. O primeiro, chamado "Apaixonar-se e desapaixonar-se" onde ele traça paralelos interessantíssimos sobre como a experiência de amar nos tempos atuais é muito relativa: fazendo um paralelo com consumismo, onde existe muitas opções disponíveis, e nossa tendência em apenas consumir e jogar fora quando não nos interessa mais acaba sendo a regra que dita os relacionamentos hoje em dia. Um tempo onde relacionamentos são como mercadorias — investimos e esperamos colher lucros. Ou mesmo como meras ações do mercado — compramos por um valor, e quando não vale mais nada não temos medo de nos livrarmos delas.

O segundo capítulo, "Dentro e fora da caixa de ferramentas da sociabilidade", o Bauman entra naqueles termos que ele adora usar para se referir ao comportamento da nossa espécie — em especial, o tal "homo sexualis" que ele tanto gosta (Homem que faz sexo, e não "homossexual"). Gosto muito das reflexões dele sobre a natalidade e família. E ao mesmo tempo sobre como os seres humanos conseguem hoje ter um relacionamento puramente sexual (homo sexualis), onde o vínculo tem a duração apenas da relação, e nada mais que isso.

Logo depois disso temos o terceiro capítulo, chamado "Sobre a dificuldade de amar ao próximo", onde ele começa fazendo uma análise muito perspicaz sobre o amor próprio e amar ao próximo, avançando para percepções sobre a moral humana com o próximo, e terminando com um pensamento sobre como as próprias formas que a cidade existe acaba isolando uns dos outros, como se houvessem seres humanos que acham que são superiores aos outros que estão fora das muralhas de onde vive.

O livro é concluído com o capítulo "Convívio destruído", na minha opinião o mais pesado (e o que mais me surpreendeu, apesar de todo o livro ter me causado muitas outras reflexões também) onde Bauman começa lá atrás falando sobre o valor de nascermos no local onde nascemos, e como isso acabamos carregando pelo resto de nossas vidas (especialmente se escolhermos imigrar para outro país), e depois entrar no preconceito contra imigrantes e em como sociedades acabam tirando a humanidade dos indivíduos refugiados, os rebaixando a um nível tal qual deixam de ser humanos. Muito mais triste do que ter o coração partido na sociedade fluida.

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