A capacidade de germinar.
Foi no final de 2019 que eu comecei a querer germinar sementes. Pegava frutas mesmo que eu comia, separava as sementes, e plantava em copinhos plásticos mesmo — com furinhos na parte de baixo e terra que pego da pracinha perto de casa. Cuidar delas, regar, e observar a germinação sempre é algo que preenche meu coração de ternura. E mesmo em coisas tão simples, a natureza tem muito a ensinar.
Como alguém que não manja nada de nada, eu sempre recorria ao Google. Achando perfis de botânicos, estudando como funciona, entendendo as necessidades das plantas, quanto tempo demora para germinar, e como fazer para que ela se desenvolva. Eu podia estudar o que fosse, mas nunca imaginei o quão bonito seria ver uma vida sendo gerada. Isso nenhum botânico era capaz de colocar em palavras.
Afinal isso seria impossível de descrever. Sementes são como pessoas mesmo, nunca sabemos quando sairão da casca e se desenvolverão. Existem plantas que germinam muito cedo, outras demoram muito. E existem sementes também que nunca germinarão.
É normal que uma vez ou outra não dê certo. Eu lembro que no começo peguei sementes de ciriguela, mas descobri depois que as sementes não foram feitas pra germinar. Para se criar ciriguelas precisamos dos galhos. E existem casos também que eu coloco e passam semanas, ás vezes até meses, e elas simplesmente não nascem. Eu retiro as sementes e reutilizo os copinhos para plantar outras espécies.
No final de maio eu comprei uma graviola deliciosa e a comi rapidinho. Apesar de ter sido apenas um pedaço, deu muitas sementes.
É curioso como a natureza é. Ela gera muitas sementes, que talvez pareça até de certa forma um grande exagero. Mesmo em nós humanos, mulheres nascem com cinco milhões de óvulos, e mesmo que o número caia quando as menstruações começam a descer, ainda assim são 500 mil deles em média até a menopausa. Meio milhão de indivíduos podem ser gerados com esses gametas. Se contarmos os espermatozóides, 2,1 bilhões por ejaculação. Em quatro gozadas temos mais que a população mundial.
Realmente são números gigantescos, e isso é algo que se repete em outros animais e inclusive na produção de sementes de plantas. Mas assim como nem todo espermatozóide vai se encontrar com um óvulo para produzir um ser vivo, nem toda semente da graviola vai germinar. Muitas serão perdidas, esmagadas, morrerão antes que possam encontrar terra fértil, entre outros fatores.
Mas todas elas possuem a mesma capacidade de produzir frutos.
Eu já tinha meio que desistido das sementes que eu havia plantado. Normalmente em um mês já teriam germinado, mas as deixei lá, pois não tinha nada melhor para plantar. Quando arranjasse algo, eu as tiraria. Continuei regando, para a terra continuar viva e fértil. Passou um mês, dois meses, e agora, prestes a completar três meses, fui surpreendido com elas germinando! Praticamente todas germinaram, sendo que eu já havia praticamente desistido que algo nasceria ali!
Talvez o facto de eu enfim estar tratando minha depressão me faça ter essas visões mais positivas da vida.
Isso me fez refletir sobre muitas coisas. Que as coisas não acontecem no tempo que queremos. Que talvez sejamos como sementes, que é muito difícil tentar lutar contra nosso destino, ou querer que as coisas aconteçam de uma maneira ou de outra. A gente não tem controle de absolutamente nada. Mas podemos aprender a ter paciência. Respeitar nosso tempo (e o dos outros) exatamente como as sementes:
Pois todos possuímos a capacidade de germinar. Temos que regar e aguardar que as coisas aconteçam ao seu tempo. Mesmo que o nosso tempo seja limitado, e que sejamos limitados pela nossa própria existência, acho que existe um momento em cada pessoa onde ela experimenta essa sensação de germinar.
Pode ser uma, duas, ou quantas vezes quiser em sua vida. Temos todos a capacidade de germinar. Apenas devemos respeitar nosso próprio tempo.
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