Livros 2022 #18 - Caderno proibido (1952)
Eu sou fã dos trabalhos da Elena Ferrante. E quando vi no clube do livro que esse livro serviu de inspiração para a própria, me animei muito. Não tem como negar que Alba de Céspedes, em sua obra de setenta anos atrás tenha muitos elementos que a Elena Ferrante usaria em seus livros. Mas o que mais me intrigou é que achava aquilo tudo muito atual, e muitas vezes me pegava parando e tentando realocar todos no começo dos anos cinquenta. E não em 2022.
Dá pra perceber que serviu de inspiração para a Elena Ferrante por conta de toda a linguagem profundamente introspectiva, sabendo descrever muito bem sentimentos, com passagens cheias de reflexões. Essa é a coluna dorsal tanto da Alba quanto da Elena. A diferença é que a Elena Ferrante adicionou a isso muitos personagens carismáticos, e várias reviravoltas no roteiro. Já Alba foca na quantidade menor de personagens, destacando as limitações que eles possuem — que muitas vezes enche o saco.
De início achei o livro insuportável. O livro é narrado pela Valeria Cosatti, uma dona de casa que compra um diário e começa a escrever sobre sua vida nele — o conturbado momento em que os filhos crescem e decidem sair do ninho. Pelo menos por uma centena de páginas não há muito conteúdo, ela vive com medo que descubram o tal diário. Mas depois ela se sente mais à vontade de escrever nele suas intimidades, e vemos diversos dilemas que existem em famílias: a inveja que sente da filha, um marido sem graça, um filho inseguro sobre o futuro, e um caso extraconjugal.
A leitura ganha corpo, e você vai vendo a quantidade de dilemas que jogam na nossa cara a complexidade desse núcleo familiar tão simples.
Embora a leitura seja excelente, me cansava muito. O tipo de livro que a gente lê umas dez páginas, mas parece que cansa como quando lemos cinquenta. Enquanto eu lia, achava aqueles dilemas das personagens uma coisa muito atual. Como não pesquisei nada sobre a autora, achava que ela tivesse escrito no máximo nos anos noventa. Mas o livro foi escrito em 1952, narrando um romance que se passa em 1951. Pelo visto o mundo mudou muito pouco em setenta anos.
A vida da Valeria é carregada de frustrações, e isso acaba atribuindo um peso à obra também. Apesar do começo bastante maçante, tenho que admitir que foi uma leitura bastante proveitosa.
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