O buraco que nunca mais será preenchido.


Faz tempo que eu não vejo a Bia. Éramos grandes amigos na época do ensino médio, mas cada um seguiu seu caminho. E talvez a única ligação que eu tenho com ela hoje seja nas redes sociais. Mesmo assim não nos falamos muito. A gente possui vários amigos ao longo da vida, em cada momento de nossas vidas existe alguém, e mesmo que partam, a gente sabe que a amizade será para sempre. No entanto, mesmo com essa distância, não pude deixar de ficar com o coração despedaçado quando ouvi a notícia da morte da filhinha dela.

Queria colocar uma foto da pequena Laura nessa postagem, então abri o Facebook e fui atrás. Apenas dez meses de vida. Uma criança muito fofinha, sempre sorridente. Era visível ver a felicidade da minha amiga Bia também enquanto ela estava entre nós. E enquanto eu ia passando as fotos do Facebook, vendo todas as fotos em que ela estava bem, via as datas chegarem até o derradeiro 16 de setembro — o dia em que a pequena bebê partiu desse mundo.

Hoje em minhas preces diárias meditei por ela. E espero sinceramente que os budas levem algum tipo de conforto para a família.

Acho que muitas coisas passam pela minha cabeça agora. Não apenas no quanto a vida é breve, como a tristeza que essa minha amiga carregará pelo resto da vida por ter perdido a filha na fase mais repleta de ternura que existe.

Lembro da minha avó comentando sobre os irmãos dela, e que mesmo ela com mais de setenta anos, continuava comentando sobre o irmão dela natimorto. Apesar de quase todos os irmãos estarem vivos na época, sempre haverá aquela cadeira vazia — que poderia ter sido ocupada por aquele que não estava lá. De quem a mãe dela carregou por nove meses, e no momento em que ela colocou sua própria vida em risco, no momento do parto, descobriu que ele havia nascido morto.

Todos os filhos cresceram também com aquela dor. Mesmo que não tivessem memória, ou houvessem nascido depois. A contagem era de todos os que estavam vivos, mais um. E mesmo que o falecido fosse contado, na prática ele não estava lá. Menos um. Porém o buraco que sua ausência causou estava lá.

A verdade é que a saudade se tornaria um buraco que, por mais que venham outros, ele não consegue se fechar. Fico imaginando agora o quão difícil será para a minha amiga Bia, viver com um buraco no peito que não é possível preencher. E terá que aprender a viver com isso. Para sempre com essa sensação de que, mesmo que para nós de fora pareça que tenha superado, dentro dela ela sabe que não apenas não superou, como será impossível de fazê-lo.

Pois esse buraco nunca poderá ser preenchido novamente.

Vá em paz, Laura. E que os que ficaram encontrem conforto e força para seguir em frente depois da sua partida.

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