Livros 2022 #22 - Noites Brancas (1848)
Mês passado no nosso clube do livro tivemos a chance de conhecer literatura russa! Graças a uma curadoria excelente por parte da Raquel Toledo, uma das maiores especialistas do assunto nesse país! Pessoalmente não conhecia nada, então setembro foi um mês de bastante descobertas da maravilhosa cultura desse país tão longe da gente. E fomos de Dostoiévski!
Eu, que sou um fã de carteirinha das lindas publicações de clássicos da Antofágica, desembolsei umas moedas a mais e comprei a versão bonitona deles. Não sei o porquê, mas achava que era maior, fisicamente.
Fiódor Dostoiévski tem uma escrita tão gostosa, que quando eu percebi eu já havia devorado mais da metade do livro em apenas uma sentada — mesmo ele tendo aproximadamente duzentas páginas. Autores que conseguem pegar divagações e transpor em prosa são o tipo que nós temos que prestar muita reverência. Não sei se a Mariana Salomão Carrara bebeu dessa fonte, mas há muitas similaridades nesse aspecto.
O livro conta a história de um protagonista anônimo, que os leitores se referem a ele como "o sonhador". Se trata de uma história de amor que tem como plano de fundo São Petersburgo durante as conhecidas noites brancas — um fenômeno natural que ocorre nos países próximos do círculo polar ártico, onde por alguns dias o dia não se põe, fica claro inclusive durante a noite.
Nosso protagonista anônimo enquanto andava sozinho pela cidade, acaba encontrando uma donzela aos prantos. Ele hesita de início perguntar a ela o que está acontecendo, mas logo um outro homem aparece e a ameaça, e o protagonista a salva, e então a garota agradece, se apresenta como Nástienka. E então o livro, que até então tinha um narrador em primeira pessoa, vira a transcrição da longa conversa que o protagonista tem com essa mesma Nástienka, onde ele fala de seus sonhos, sua visão de mundo, inspirações, e muito mais. E por quatro noites eles se encontram, e a história vai se desenvolvendo até um realmente inesperado final.
A editora Antofágica fez um trabalho incrível. Não apenas na parte da tradução primorosa, mas também nas lindas ilustrações de Mateus Acioli, que usa ali uma técnica de guache e nanquim aguado, passando uma noção de algo intangível, fugaz, justamente pela falta de contraste, linhas, e fazendo uso apenas das formas e massas.
E como se não valesse a pena o lindo acabamento e a capa dura, a edição da Antofágica sempre traz prefácios e posfácios ricos e deliciosos de se ler, que não apenas nos preparam para a leitura (prefácio), como explicam e trazem informações e curiosidades preciosas (posfácio).
Ao mesmo tempo tentei ler Anna Kariênina, de Tolstói, que eu gostei muito, mesmo me perdendo muito nos nomes dos inúmeros personagens e a trama muito profunda. Ainda quero pegar no futuro e voltar a ler esse — acabei sendo dominado pela ansiedade de ter que devolver na biblioteca e não consegui me sentir confortável para lê-lo com a atenção que ele precisa. Duas ótimas primeiras impressões da rica literatura russa!
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