A dura jornada para descobrir sobre meu autismo.


Gosto muito de consumir coisas relacionadas ao mundo autista. Na época do Ensino Médio convivi com um colega que tinha um autismo agudo, e considerando em como os autistas são mostrados em séries, como "Atypical", ou "Uma advogada extraordinária", fica difícil para pessoas que têm autismo leve se reconhecerem. Foi na busca de respostas sobre quem eu sou que me tenho tentado entender como funciona.

Eu tinha uma consulta com a psiquiatra marcada pro último dia doze. Foi só quando cheguei ao consultório que descobri que ela não atendia mais, e acabei tendo que passar no pronto-socorro apenas para pegar uma receita para os tratamento da depressão. Eu estava cheio de expectativa pra perguntar pra psiquiatra sobre como fazer o diagnóstico de autismo — que eu já estava estudando sobre há alguns meses, e me deixava ainda em mais dúvida para saber se eu sou ou não.

Na última consulta com a psicóloga, comentei pra ela que eu tinha suspeitas sobre eu estar dentro do espectro autista. Ela me respondeu de uma maneira que eu não gostei, acho que foi uma das únicas vezes que senti assim. Ela disse que era perda de tempo ir atrás desse diagnóstico, que eu era uma pessoa normal, e me perguntou o que faria de diferença saber que eu era autista.

Eu me frustrei muito porque, saber do diagnóstico, me responderia várias perguntas. Você não chega num cadeirante e diz que ele pode andar, ou em uma pessoa surda e diz que ela não possui uma deficiência. Saber que eu estou dentro do espectro autista iria me trazer respostas a coisas que eu busco a resposta a minha vida inteira. Sobre a origem da minha depressão, sobre diversas coisas que me machucam ou me fazem sofrer, sobre esse inexplicável azar na vida amorosa pela vida inteira, e sobre como muitas coisas que são fáceis para os outros são coisas extremamente difíceis para mim.

Entendo que ter uma atitude negativa, achar um defeito gritante em si mesmo, não é algo saudável mentalmente. É perfeitamente compreensível minha psicóloga tentar evitar que eu caia de novo em um turbilhão de negatividade. Mas se eu tivesse o diagnóstico eu entenderia que é um problema no cérebro, não por falta de vontade, ou porque não tenho sorte, ou fé. Sabendo se eu estou dentro do espectro autista me ajudaria a tentar colocar na balança meus defeitos e virtudes, e tentar conviver ou driblar eles, ou usá-los para meu crescimento, respectivamente.

Dias atrás conheci o Embrace Autism. O site, mesmo sendo em inglês, possui testes para se ter uma ideia se você está dentro do espectro autista ou não. Não substitui um exame oficial, mas pode te dar indícios bem fortes se você é ou não. E tomei um susto ao ver que em um teste de 50 perguntas, eu fiz 34 pontos, onde acima de 25 significa que você deve ser autista, e que 80% dos autistas que foram diagnosticados por exames marcaram acima de 32. Num teste onde eu marquei 34.

E em outro teste, a nota de corte era 64. Abaixo dela não era autista. Acima dela, você é. E eu marquei quase TRÊS VEZES mais, conseguindo 156 pontos.

A vida inteira pessoas me achavam esquisito. Que eu tinha manias estranhas, que não conseguia captar ou falava coisas que machucavam os outros e eu não percebia. Barulhos ou cheiros muito fortes me causam um desconforto extremo. Problemas com a rotina, o que dificulta muito no trabalho. Isso sem contar essa ingenuidade que sempre me trouxe várias dificuldades.

Talvez responderia uma das maiores dúvidas da minha vida: porque para mim é tão difícil conseguir uma mulher para um relacionamento? Entender que não é apenas uma falta de malícia da minha parte, ou uma incapacidade para mentir e por meio delas conquistar alguém. E sim que eu não consigo ler nas entrelinhas, que existem diversas informações expressadas pela mulher que passam batidas e não são processadas no meu cérebro, e entender que nunca foi uma falta de sorte, ou falta de esforço. É uma questão de ordem mental.

Agora que eu tenho hipóteses, resta esperar que no ano que vem eu consiga ao menos traçar um diagnóstico firme. 

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