A impotência de quando somos acuados.
O mundo que se abria era repleto de possibilidades. Tudo ao nosso redor fazíamos questão de conhecer. Como indivíduos que buscavam uma reafirmação, moldávamos assim a nossa personalidade. E pode ser que foi por causa disso que os vínculos criados ali foram tão fortes — o que a luz do sol iluminava não era apenas o caminho que estávamos decidindo trilhar, mas por termos criado tal amizade no meio desse momento, achávamos que haveria fraternidade duradoura pelo resto da vida.
Fico me questionando o quão amigo eu consigo ser, se consigo carregar uma amizade ao longo da vida. Vejo sempre meu irmão com o mesmo grupo de amigos há mais de vinte anos — pessoas que estiveram com ele desde o primeiro ano escolar — e eu vejo que não consigo ter tal encargo com absolutamente ninguém.
Talvez aja uma necessidade de tentar manter o vínculo com essas amizades que nutrimos naquele momento mais fervilhante de nossas vidas. Como se manter o contato com essas pessoas deixasse vivo aquela época, onde nós pudéssemos ressuscitá-la quando quiser, mas a vida ensina, que dependendo da situação, até isso pode ruir. Porque pessoas crescem, mudam, amadurecem. E tentar achar que um vínculo de amizade poderia ser inabalável, bate de frente com a questão das pessoas se reinventarem.
Parece que quanto mais cresço, mais me torno uma pessoa fraca. Quando eu era criança, ou mesmo na adolescência, haviam muitos sonhos e pouca realidade para destruí-los. Mesmo eu tendo dificuldades em superar coisas — especialmente deixar as mágoas do passado passarem — sinto que hoje em dia essas águas estão sempre prestes a me engolir. Que passar por alguma coisa que faça aumentar as frustrações que não foram tratadas lá atrás, fazem tudo transbordar. E quando tudo transborda, e eu fico mergulhado em todo esse sentimento ruim, e isso me afoga.
A sensação de estar afogado é horrível. É um colapso. Nesse momento eu vejo que nem mesmo no tempo que eu achava que era forte, eu de facto era. Tudo estava sendo guardado ali. O que começou como um filete de água que passava entre meus pés, passou a cobrir as canelas, subiu até a cintura, e hoje me cobre por inteiro, onde, com muitas delas, me sinto prestes a afogar — como uma pessoa que tenta boiar no meio de um oceano, e só consegue manter a boca para fora, olhando na direção do céu, para respirar.
Colapsar não é nada bom. Mas pior ainda é quando a causa é um amigo.
Um amigo meu parece que sente que não há limites para a brincadeira quando se está numa amizade. Não foi a primeira pessoa com quem eu tive isso. Antigamente, por conta de eu me sentir sempre excluído, tentava suportar situações que me faziam um profundo mal, pois somos humanos e precisamos de contato com humanos. Mas hoje eu vejo que esse foi um erro enorme que eu fiz lá atrás, justamente porque eu acabaria me afogando em meus sentimentos cedo ou tarde. Nunca foi uma questão de "se iria me afogar", mas sim de "quando iria me afogar".
Esse tipo de comportamento me causaria danos difíceis de superar hoje.
Me pergunto também o quanto as pessoas me conhecem. Isso eu incluo todas as pessoas, incluindo a família mais próxima, e amigos. Talvez minha terapeuta — mas ela está prestando um serviço para mim, então para minimamente fazer valer o valor gasto, me vejo obrigado e me abrir. Mas também não quer dizer que ela não me machuque. E por ser machucado, isso abale o laço, como com qualquer outra pessoa.
A raiz de todo o problema está em ser machucado. Eu não gemo, eu não grito de dor, ou mesmo revido. Eu sempre tive um comportamento muito autodestrutivo. Isso explica a depressão e tentativas de suicídio.
Ao mesmo tempo entendo que seres humanos carecem de estabilidade. Como um casamento, o foco nunca é amor, ou arrendar patrimônio. Mas sim criar um contrato que firme a estabilidade de uma relação. Pois só nos desenvolvemos cercados pela estabilidade.
Acho que quando disse para esse amigo que ele era meu melhor amigo, acabei assinando esse contrato de estabilidade com ele. Mas chegar a esse ponto não significa que nada irá abalá-la. Ele fez algo que me incomodou e me rendeu. E mesmo depois do meu primeiro aviso, ontem fez de novo.
E mais uma vez chego nesse ponto, onde vejo que mesmo as amizades que eu mais acreditava que seriam para sempre, poderiam eventualmente acabar. Se não há respeito, se não entende que existem limites, que não vale a pena fazer o amigo passar vergonha para que dê risada vendo ele sendo ridicularizado, já está mais do que na hora de botar um ponto final nessa amizade. E que cada um siga seu caminho.
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