Livros 2023 #3 - Esperando Bojangles (2016)
O que havia na cabeça dela? Essa mulher que dança sozinha e encanta nossos corações, que vê coisas de uma maneira que jamais nossa visão limitante nos possibilitaria. A beleza de fora era amplificada por toda a pureza que havia dentro dela. E quando as pessoas eram agraciadas com isso, percebiam que o mundo aqui fora era minúsculo, e que tudo o que ter essa mulher em sua vida poderia proporcionar é muito maior do que qualquer outra poderia. E depois de provar desse amor, não conseguiríamos mais nos imaginar sem o mesmo.
Viver com ela era algo viciante como a maior das drogas. Pois depois de provar, não conseguiríamos mais seguir em frente sem ela ao lado.
Seria impossível para apenas uma única mulher instigar as pessoas da maneira que ela fazia. Ali não havia apenas a Colette, Hortense, Joséphyne, Louise. Todas estavam dentro da alma da mesma mulher, e talvez fosse por isso que sempre fora tão completa. Tanto pro bem quanto pro mal. Era a mãe que dava colo, era a namorada irresponsável, era a que via o mundo com aquela beleza única, mas também era o profundo caos, a inabalável, a agressiva. Tudo isso pois o mundo dentro dela era gigantesco, mil vezes maior que o minúsculo globo em que vivemos.
Essa mesma mulher, a única no meio de milhões de outras apenas normais, só poderia ser feliz com alguém que nutrisse tanto uma profunda admiração, para seguir apaixonado por aquele turbilhão de humores e emoções, sejam nos momentos bons ou ruins, mas igualmente um marido que a permitisse ser livre. Nutrir por ela aquele amor onde ela poderia continuar sendo quem ela bem entendesse, e sentisse que quanto mais o amor fosse sinônimo de liberdade, mais esse sentimento seria profundo — e ao encontrar em um parceiro essa liberdade, seria justamente este fator que a faria ter olhos apenas para ele pelo resto da vida.
Nos momentos em que ela inspirava ou embelezava nossas vidas, tudo estava bem. Mas quando as crises chegavam, poderiam ser igualmente devastadoras. E para não criar traumas com o filho, o pai iria tingir todas essas sombras com as mais vivas e vibrantes cores. Mesmo que o pai soubesse toda a dura verdade por trás de tudo. E mesmo que tais experiências no ponto de vista de uma criança poderia ser a raiz de incontáveis medos que ela levaria o resto da vida para superar, aquilo tudo parecia aos seus olhos ações inocentes ou brincadeiras em meio às crises da mãe. Um amor que o estava blindando, e o ensinando a ver a vida com os melhores olhos possíveis.
Fazia tempo que um livro não me fazia chorar. Que história mais linda!
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