Livros 2023 #9 - Aprender a falar com as plantas (2018)


Cada pessoa lida com o luto de maneira diferente. Não consegui deixar de comparar com outra autora que amo, a Joan Didion. Especialmente pois a personagem tem outra abordagem ao luto. Mas acima de tudo mostra o quanto somos frágeis, e em como a solidão está pronta para nos abater, só esperando o momento propício para isso. E quando alguém morre, e começamos a descobrir coisas do passado dessa pessoa, nossas boas memórias vão se misturando com os podres que achamos dela. Esse paradoxo dá um nó ainda maior na nossa cabeça.

A catalã Marta Orriols assina o livro "Aprender a falar com as plantas". O livro conta a história de Marta, uma médica, que subitamente perde seu marido, o Mauro. E, enquanto vasculhava algumas coisas do próprio, descobre que ele tinha uma amante em segredo. E quanto mais ela puxa esse fio, mais coisas ruins vão se juntando ao seu luto, a tornando uma pessoa que ao mesmo tempo gostaria de revê-lo, como também uma revolta imensa em seu coração.

A obra é narrada todo em primeira pessoa, e acho muito curioso que a pessoa que esteja lidando com o luto seja justamente uma médica. E para ser ainda mais contrastante, ela é uma neo-natalista. O livro inteiro é recheado desse contraponto: enquanto ela luta para salvar a vida de recém-nascidos, por dentro ela lida com a morte do homem que sempre a amou.

Recheado de ótimos coadjuvantes, como seu pai, a Carla, e Quim, toda a interação da Marta com esse trio — que tem um peso na vida de Marta como se fosse passado, presente, e futuro dela, respectivamente —revela uma protagonista muito humana, tentando buscar respostas com quem já viveu isso, buscando entender o motivo de ter sido trocada, e o desejo inevitável de acabar com sua dolorida solidão.

O desfecho de todos também é algo imperdível.

Repleto de reflexões lindas, aprendemos com os percalços que a personagem vive. Mostrando que superar algo parece bonito nas palavras, mas é repleto de dor, questionamentos, e frustração. Apesar da tradução feita direto do catalão — uma língua entre o francês e o espanhol — senti muita dificuldade com os personagens que falam espanhol, pois suas falas não são traduzidas, como a Pili. Espanhol é uma língua aprendida pelos catalães, mas nem todo o mundo fala ela também, faltou umas "notas da tradução" pra ajudar a gente que só fala português. O que está em português é apenas o que estava no catalão original, não os trechos em espanhol.

Achei um livro ótimo! Recomendado!

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