A arma entre as pernas.


Da onde será que vem a violência do ser humano? Será que antes dele ter a capacidade de agarrar algum porrete por conta da vantagem de ter polegares, havia alguma outra arma? Eu entendo que homens são mais fortes, e ter essa característica física pode ter sido um fator para não apenas defesa, mas emprego na violência contra outras pessoas. Mas acho que houve algo antes. E o pênis foi a primeira arma do ser humano.

Eu, como o possuidor de um, fico pensando em como a relação com nosso órgão genital molda a sociedade humana. Em outros bichos é apenas um órgão secretor e para acasalamento. Talvez nos primatas mais próximos de nós talvez vejamos algo parecido, mas não tão enfático como é conosco. E nem digo em questão de tamanho, ou prazer. Falo do facto da gente ter distorcido um órgão reprodutor, e o usado para mostrar dominação e como arma de agressão.

Quando vi as imagens dos estudantes da UNISA correndo com seus pintos moles, ou os mostrando ali na arquibancada, isso me veio à cabeça. Existem pessoas que falam que foi apenas uma ato imaturo, ou uma mera obscenidade, mas é algo muito mais arraigado que isso.

Entenda que, por nós sermos homens, e termos mais força física que mulheres, aquele ato de mostrar o pênis é como se sinalizasse que os que o possua têm poder, e poder significa forçar outros a fazerem o que queremos contra sua vontade. Afinal homens têm músculos, e segurar uma mulher enquanto a violenta, é como eu disse acima: pegar o órgão reprodutor e o usar como arma.

Só o facto de exibir daquele jeito, é como afirmar: "Temos aqui uma arma, algo que será usado para subjugação de vocês", pois o pênis, unido com o indivíduo que o possui, nesse tipo de uso se torna algo repreensível, mostra dominância, pois ele já não é apenas um órgão nesse momento.

Mergulhados em uma sociedade patriarcal, a capacidade de se conseguir praticar sexo é sempre algo que torna "um homem mais macho". Pois independente de ser uma relação consensual ou não, o facto de conseguir subjugar alguém através de um intercurso sexual pode ser usado como uma arma para mostrar dominação e destacar o quão impotente os outros são perante o macho dominante.

Neidiclau era assim. Eu me lembro da infância em como esse homem costumava andar completamente nu pela casa, exibindo seu pênis. Muitas vezes com a glande para fora, e, obviamente, por conta da idade, sempre ser maior que o meu, penso hoje que era similar ao ato de andar com uma arma na cintura. Ter ali o pênis maior era mostrar a dominância, quem era o macho líder da casa.

No caso de algum ato de rebeldia infantil, eu lembro de algumas vezes se referir ao tamanho do meu pênis — uma grande besteira, pois inevitavelmente cresceríamos, e os órgãos sexuais se amadureceriam, como acontece com todo mundo — mas naquela circunstância era a arma que ele tinha disponível.

E por meio do constrangimento ele exercia o domínio. Era a pessoa que não tinha pudores, que fazia sentirmos inferiores por ele ter o pênis maior, pois é assim que sempre funcionou, e sempre funcionará. O mesmo homem que contava histórias do quão viril era, como se isso o qualificasse como alguém superior. É a pessoa que manda nessa casa. E andar sempre pelado, mostrando o pênis, era uma forma de indiretamente, nos colocar em nosso lugar.

E assim continuou por muito tempo, foi só depois que eu já estava adulto que Neidiclau parou com isso. Ali quando eu tinha meus dezessete anos ele, movido pelas suas paranóias e suposições tiradas do cu, inventou que eu era gay. E aí ele começou a se esconder, como se eu fosse sentir atração, talvez? Sinceramente não sei. É uma cabeça cheia de maldade que eu tenho até medo de imaginar em como ela funciona.

Acho que por ele ver que eu não seria outro elo dessa corrente ancestral, tentava me desmerecer de tudo quanto é maneira. E ainda mais por eu nunca ter me envolvido com algo de errado, sempre ser alguém que aprecia os estudos, filosofia e reflexão, e não ter se rendido ao alcoolismo, sempre foi alvo de inveja. E aí criar suposições sobre uma eventual homossexualidade minha que nunca existiu era a forma de achar algo que lhe desse o aval para me insultar e rebaixar.

Um gesto está sempre carregado de significado. O que os estudantes da UNISA fizeram não foi apenas exibir suas genitálias. O pênis na sociedade humana pode ser sim uma ferramenta de prazer, de paixão, para estreitar laços, e felicidade. Mas por conta da nossa corrupção pode ser também uma arma, que constrange, que ameaça, que impõe medo, que estupra, entre outras tantas funções infelizes.

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