Livros 2023 #13 - Como tigres na neve (2021)


A guerra não traz vencedores. Todos os lados perdem. Ao mesmo tempo nem mesmo a guerra pode parar a vida das pessoas. São homens e mulheres que nascem no meio do conflito, iniciam uma carreira, se apaixonam, e, na medida do possível, correm atrás de seus sonhos. E nesse encontro de conflitos — o externo, com combate, mortes, e sangue; com o interno, com derrotas, frustrações, e êxitos inerentes a qualquer existência — a vida estranhamente se encaixa.

É muito enriquecedor um livro que mostra essas mudanças históricas sob a perspectiva não dos políticos e poderosos, mas do povo comum. A coreana-estadunidense Juhea Kim escreve "Como tigres na neve", um romance histórico ambientado na Coréia ocupada pelo Japão, bem naquele período conturbado entre guerras.

Nessa obra conhecemos, em meio a esse turbilhão de mudanças, a vida de diversos personagens. Todos têm em algum grau alguma relação entre si, mas o interessante é que são todas vidas bem distintas. Desde uma garota que é vendida para um bordel ainda criança, órfão que vai para a capital Seul tentar a vida, advogados e jornalistas que observam tudo como uma espécie de elite intelectual, e tantos outros.

Apesar de ser ficção, o livro tem uma assertividade histórica sensacional. Embora talvez pareça caricato o jeito bruto dos japoneses sendo agressivos com os coreanos, aquele tipo de comportamento é bem real historicamente. Dois acontecimentos históricos muito bem retratados ali são o "Movimento Primeiro de Março", onde após o término da Primeira Guerra um grupo de coreanos declara o país independente do Japão, e a rendição japonesa após a Bomba Atômica, com todas as consequências aos nipônicos que ocupavam a península coreana.

É um livro que cansa um pouco pois como a autora é estadunidense, ela tem aqueles vícios da escrita deles. E nem falo do "dar de ombros", ou "franzir o cenho" que sempre encontramos nas traduções aqui. Acho que essa coisa de entrar em descrições cansativas do cenário, e não saber escrever direito com narrador em terceira pessoa é algo que sempre vai limitar autores dos Estados Unidos. Tem um capítulo, por exemplo, que é todo narrado em primeira pessoa, e é excelente!

Gosto muito do jeito que ela amarra tudo no final, o livro fica alternando em partes monótonas e cheias de ação, mas os epílogos de cada personagem é uma coisa magistral, me emocionou pra caramba, achei que foi o ponto alto do livro. Faz tempo que eu não vejo um livro tão bem finalizado!

Conhecer e seguir a trajetória da Jade Ahn e do Nam JungHo foi inesquecível, são os meus personagens preferidos! Mas ainda assim o livro tem muitos outros coadjuvantes excelentes, que brilham também em seus momentos. Nisso acho que a autora acertou em cheio também, são todos apaixonantes.

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