Livros 2023 #21 - Hibisco Roxo (2003)
Meu primeiro contato com "Hibisco Roxo" foi há pelo menos uns quatro anos, antes da pandemia. Conhecer uma autora de talento como a Chimamanda foi crucial para abrir meus horizontes — e parar um pouco de ler homens brancos. O livro já foi duas vezes colocado em votação no clube do livro, perdendo ambas. Mas agora finalmente vamos ler!
Em uma só tacada Chimamanda faz duras críticas sociais a muita coisa, e muitas delas eu só consegui perceber agora, relendo. A história gira em torno da família de uma menina — essa é a que narra a história — onde o pai é uma pessoa extremamente patriarcal. Como se o machismo não fosse o suficiente, ele ainda é uma pessoa que usa a moral religiosa para doutrinar com rédeas curtas seus filhos enquanto suprime tradições nigerianas.
Os casos que o livro conta são sempre muito chocantes e revoltantes. Mas ainda tem uma crítica ao colonialismo muito forte, e não conseguimos de deixar de associar conosco e com tantos países por aí. Afinal, valores brancos e europeus sempre são elevados em um pedestal em contraste com as tradições locais.
A Chimamanda tem uma escrita que eu gosto muito. Não tem muitas introspecções, e tem um ótimo ritmo. E acho que quando um autor usa a simplicidade para comunicar sua ideia, ela alcança lugares que nunca outro estilo alcançaria. Isso prende muito quem o lê, eu li em menos de uma semana, de tão fluído que ele é.
Explorar o núcleo familiar é outra coisa muito acertada por parte da Chimamanda. Não é apenas naquele que eu citei, mas expande para outros membros da família e ver todas as vidas ali é uma coisa que trouxe muito valor ao livro como todo.
Entender todas as motivações individuais é outro ponto forte dela. Por mais que as ações não sejam aceitáveis, elas tem um fundamento. Não são personagens vazios, sabe? A gente vê ali algo no passado que fez fulano ser assim, vê o contexto histórico e político, algo mal resolvido, que faz a gente entender a origem das decisões tomadas ali por todo mundo.
Chimamanda não é a primeira a mostrar questões políticas dos países africanos. Nações que sofreram tanto com colonialismo europeu, que lutaram muito pelas suas independências, muitas resultando em sangrentas guerras civis e golpes de estado — adiando a transição democrática, ou ás vezes nem possibilitando até hoje. No caso de Hibisco Roxo, o livro se passa em meados dos anos 1980, onde o país se recuperava da guerra civil dos anos 1960 e sofria outro golpe em 1983. O medo e a incerteza política é muito destacado nas páginas do livro.
Hibisco Roxo é tudo isso, um livro que machuca, mas ensina.
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