Tudo ali era muito simples.
O Google Maps planejou minha viagem, e fui. Uma hora e meia é um deslocamento até que rápido pros padrões de São Paulo. Eu nunca tinha pisado na USP, mesmo tendo um irmão que trabalha lá, e passado perto várias vezes. O calor dentro da tenda da feira do livro de lá estava infernal, vi umas duas pessoas passando mal e sendo carregadas pelos bombeiros, e por muito pouco eu também não fui. Saí para buscar uma água pra beber e fiquei bastante comovido com algo que eu vi.
Logo de cara vi uns ambulantes vendendo água de coco. Não sei se eram uma família, ou apenas um grupo de amigos, mas eles todos ali pareciam ser pessoas muito simpáticas. Me chamou muito atenção a simplicidade, além de um negócio próprio para se abrir os cocos verdes que achei a coisa mais prática do mundo.
Vou confessar que o mundo estava girando. Eu havia transpirado muito, e precisava me hidratar, então peguei um coco verde geladinho ali mesmo.
Enquanto meus sentidos iam a se restabelecer, eu dava umas singelas reparadas naquele grupo ali. Não sei de suas histórias ou suas necessidades, mas pareciam pessoas bem tranquilas, de bem com a vida, vivendo de maneira simples, apesar do mundo complexo que está ao nosso redor. Não eram as pessoas engravatadas que meus pais sempre me forçaram para que eu me tornasse — e que eu também sempre repudiei tal destino para mim — e na minha cabeça comecei a imaginar como seria a vida de vendedores de água de coco.
O sustento deveria vir de eventos como esses, óbvio. Não sei se é possível se faturar muito, afinal o coco estava dez mangos. Mas com aquele dinheiro conquistado, teriam que dar um jeito de levar o mês, até o próximo evento que acontecesse. Imaginei-os numa vida bem livre, apesar das necessidades. Não teriam um carro do ano, ou uma casa na praia, mas não passariam fome. E deixariam suas vidas serem levadas adiante, curtindo cada momento, a companhia de seus parceiros e parceiras, e celebrando as conquistas que para muitos engravatados seriam corriqueiras. Mas para eles ali seriam um motivo genuíno de felicidade.
Fiquei imaginando se eu não gostaria de ter uma vida assim. Não vou negar que achei tentador. Talvez passaria para as pessoas que aderiram ao sistema como um bando de hippies do século XXI, gente que não tem onde cair morta, que vivem na informalidade. Mas imaginei todos ali como uma pequena república, onde o objetivo não seria se estressar na vida até dizer chega, mas sim onde todos ali se ajudariam, fazendo seus corres, mas sem deixar que aquela vida simples acabe.
Nesse grupo, havia uma moça, talvez em seus vinte anos, dando de mamar ao seu bebêzinho. E vendo aquela cena me fez pensar naquela máxima que a gente sempre ouve de que "não é necessário muito para se viver". Olha ali, tudo o que aquele bebê precisa está ali, sendo oferecido pelo leite de sua mãe. Apesar de eu saber que é falta de educação ficar encarando as pessoas, aquela cena me aqueceu tanto o coração, sabe?
A gente que complica as coisas mesmo.
Escrito dia 9 de novembro de 2023.
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