A onda de calor.


Se eu fosse arriscar sobre o que eu morreria, uma das opções que eu cogitaria seria calor. Nesse ano com esse El Niño devastador, por conta das mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global tem vários dias que eu fico passando muito mal. Dias e dias sem dormir direito, e o calor não me dá ânimo pra fazer nada.

Duas coisas que eu sempre convivi foram goteiras e pernilongos. Eu não vejo essas duas coisas tão presentes na vida das outras pessoas, mas ser alérgico a picada desses bichos malditos sempre me deu a impressão de que eu sou visto como um grande alvo deles. A vida inteira. Muito talvez por eu morar perto de uma praça e ter uma árvore bem grande aqui na calçada do vizinho. Mas o calor anda tão forte que nem mesmo os pernilongos andam aparecendo.

Verão sempre é essa época que eles mais aparecem, mas ultimamente eles andam aparecendo no inverno, ou em dias mais amenos. Se tem gente que ainda nega o aquecimento global eu só posso afirmar que está tão quente que nem mesmo os mosquitos andam aguentando.

Já faz uns dez anos que sempre tem um dia no equinócio (seja primavera ou outono) que é um pico de calor fora do comum totalmente do nada. O pior na minha opinião foi o do dia 24 de setembro. Nesse dia saí para encontrar as amigas do clube do livro numa cafeteria ali na região do Ipiranga, e quando nos despedimos no meio da tarde, fomos caminhando até o metrô e eu lembro que por dentro eu parecia desfalecer.

Na academia que eu frequentava tinha sauna. Embora eu não aguentasse muito tempo, eu gostava muito de fazer, especialmente depois de malhar. Meu limite de suportar o calor era uma sensação bem distinta: eu sentia que minha cabeça "baixava", meus olhos começavam a ir pra cima fora do meu controle, e eu caminhava corcunda (ainda mais do que eu sou naturalmente). Não sei se é a forma que meu corpo achou para exprimir "desespero". Mas naquele dia 24 de setembro enquanto ía pro metrô com a Dani e a Fernanda, a sensação foi bem essa de estar no limite do calor tolerável de uma sauna.

Eu não queria passar tão mal com o calor. Tem gente que nem transpira. E por mais que eu tente explicar o tanto que eu passo mal, como os outros não sentem isso, acham que é frescura. Minha mãe é bem assim, nesse mesmo dia 24 de setembro eu fui correndo para a geladeira buscar gelo para fazer umas compressas. Eu disse pra ela que eu estava passando muito mal por conta do calor, e ela: "Mas como assim? Eu não tô passando mal", e eu: "Foda-se. Eu não sou você".

Nesse momento em que escrevo isso o calor é esse incômodo que tira toda minha concentração. Mesmo com o ventilador apontado pra mim, eu sinto como se fossem agulhas quentes ferindo meu corpo de maneira aleatória. Pontadas de calor bem pontuais, ardência. Isso sem contar a sensação que o calor já me dá: eu sinto que eu estou em um quarto fechado, com caixas de som no máximo berrando no meu ouvido, tirando qualquer tipo de concentração que eu tente fazer.

O mundo está queimando. É a própria Terra tentando eliminar essa doença dela, os seres humanos. Pessoas querem continuar trocando de iPhone todo ano sem noção de que é todo esse consumo (e de tantas outras coisas) que é insustentável pro planeta. Ninguém vê o quanto de recursos são usados e poluição é gerada pra sustentar esses luxos.

É difícil aguentar isso. E pior ainda imaginar que ainda vai piorar muito mais.

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