É duro ser o melhor amigo a toda hora.

Eu sinto que eu deveria olhar um pouquinho mais para mim, ser um pouquinho mais egocêntrico. Não falo em ser um arrombado idiota, mas parar e lembrar que eu existo. E tudo bem de vez em quando fazer algo que eu goste, ou me afastar de algo que me incomoda. Ou dar um tempo em alguma coisa. Essa minha personalidade de ser uma pessoa sempre disposta a se sacrificar pelos outros acaba atraindo muito amor e amizades sinceras das outras pessoas, especialmente nesse mundo onde cada vez mais ninguém se preocupa com ninguém.

Mas isso me sufoca ás vezes. E percebo que tentar ser o melhor amigo de todo mundo, a todo momento, é uma coisa que vai me deixando com um pensamento horrível de: "Não estou me dedicando ao nível da sinceridade de recebo de fulano", e aí eu fico muito mal, fico me crucificando, quando as pessoas só querem mesmo estar próximas de mim.

Ás vezes eu simplesmente não quero.

Como videogame, por exemplo. Semana passada eu dei um tempo, não entrei em nenhum dia. E não demorou muito para que um amigo, o que joga comigo diariamente há praticamente seis anos, me pedir para eu entrar pra jogar com ele. Eu educadamente disse que não, agradeci o carinho, pois eu queria jogar Persona 5: que não é multiplayer, e eu não consigo terminar esse jogo, mesmo gostando bastante de jogá-lo.

Fiquei pensando se o que eu fiz foi errado.

Veio na minha cabeça o quanto esse amigo é alguém muito solitário. Ele tinha como melhor amigo um cara que já faleceu — um suicídio dramático do nada. Essa amizade entre os dois era algo bem íntimo, parece que antes de tirar a própria vida esse cara mandou uma mensagem para esse meu amigo, dizendo que ele era muito especial, e tal. Eles conversavam direto, era aquele tipo de amizade que até se o cara está fazendo cocô manda um whatsapp avisando e puxando assunto.

Não sou assim. Eu estou me tornando um adepto de desligar o celular por um tempo para justamente dar uma respirada longe das redes sociais.

Eu era o segundo melhor amigo, mas com o falecimento do primeiro, eu assumi esse posto. E vou confessar que eu me sinto tão pressionado de ter assumido esse posto! É muita pressão, é muita responsabilidade você ser alvo de tanto carinho. Eu queria chegar nele e dizer que eu não sou o cara que faleceu. Sou um amigo, muito amigo mesmo, mas eu não sou. E com esse medo de não corresponder às expectativas, eu pedi para que esse amigo tentasse fazer novas amizades. Bons amigos nunca é demais, e fica um fardo menos pesado quando tanto carinho é distribuído por outros.

Quando eu neguei que não queria jogar com ele, que queria de boa jogar Persona 5, eu fiquei tão mal, sabe? É verdade que eu ia ficar cansado se entrasse online pra jogar com ele, mas eu fiquei ainda pior em ter dito "não".

Não demorou muito para que viesse à minha cabeça todas as vezes que o coitado foi rejeitado, seja por amigos, por família, por namoradas, por tudo. Que eu não devia ser assim, que eu devia ter feito um esforço para ter entrado pra jogar com ele, mas poxa vida!

Eu só queria um tempo pra respirar. Eu só queria um tempo pra não ser simpático com todo mundo como eu sou toda hora. Eu só queria um tempo pra mim, pra jogar o que eu quero, pra ler o que eu tô afim, pra dormir, e não precisar ficar fazendo a social quando não tô com saco para isso. Um tempo até pra desenvolver uma saudade de entrar e querer contato humano.

Será que dá pra entender? Se eu cedo, fico cansado por ter dedicado aquele tempo. Agora se eu nego e tento ter um tempo pra mim, um monte de pensamentos vêm à minha cabeça dizendo que eu estou fazendo algo rude, que estou sendo egocêntrico, que isso é errado, e que eu devia tratar melhor meus amigos.

E pergunta se eu joguei Persona 5? Minha cabeça entrou em parafuso, e se eu joguei um dia nesse semana passada foi muito.