A busca pela autoestima.
Eu não sou uma pessoa que acredita em mim. Minha psicóloga tenta incessantemente que eu consiga ver as coisas que — de acordo com ela — são sensacionais, que pra mim são monte de lixo. Uma vez desabafei com ela dizendo que não achava que ela estava sendo sincera, pois é paga pra me dizer isso, e senti que ela se ofendeu bastante. Parando pra pensar agora, talvez ela tenha sido realmente sincera, e só eu que fui mesmo um arrombado de não tê-la dado ouvidos.
Eu fui criado por um pai muito invejoso e uma mãe muito submissa a esse pai. Logo, não tinha quem me defendesse na família, pois ninguém na família suporta ou bate de frente com esse meu pai, é tudo um bando de cagão. E por ter esse pai invejoso — que tinha meu avô como um grande vencedor na vida, e eu que com poucos anos já o estava superando — todas as oportunidades que havia especialmente quando ele estava alcoolizado ele me rebaixava, dizendo que eu era um vagabundo, que eu seria nada nessa vida, que eu o desonrava, entre outras coisas fofas que toda criança deveria ouvir.
Então até hoje eu me vejo como uma pessoa burra, feia, incompetente, e todos os adjetivos ruins que meu pai fazia questão de me imputar por toda minha vida.
Por um lado ter humildade é uma coisa muito boa. Parece que as pessoas que têm essa qualidade tendem a crescer muito mais, pois como sempre se vêem como alguém propício a crescer, invariavelmente acabam crescendo. Se ver pequeno te faz ser grande. Os convencidos já acham que estão no topo, que não tem mais para onde se crescer, e em geral são medíocres — se acham porque sabem uma ou duas coisas, enquanto o humilde tem um leque de conhecimento muito maior.
Mas como tudo o que é demais na vida é ruim, tem uma hora inevitável onde essa humildade se torna algo tóxico e vem a maldita da insegurança.
Dias atrás eu peguei um freelance de fazer um logo. Uma das coisas que meu pai mais dizia era que eu não era uma pessoa criativa, é uma lembrança muito forte que eu queria poder apagar da minha cabeça. Fui desenvolver o logo e usei tudo o que aprendi na faculdade: teoria da cor, gestalt, semiótica, modulação, ergonomia, arte, e mais uma cacetada de conhecimento. E além de tentar trazer um fundo teórico, coloquei minha criatividade na mesa e bolei um logo único, que fosse de encontro com o briefing que recebi do cliente.
Eu gosto de fazer uma apresentação, ou ao menos um vídeo explicativo mostrando o conceito, e todo o caminho até se chegar no logo. Faço isso para o cliente ver que a criação de algo assim não é apenas "um símbolo bonito para a empresa", mas sim com uma sólida base teórica e técnica por trás.
Mas depois que terminei o vídeo fui excepcionalmente mostrar meu trabalho pra minha mãe. Como eu disse acima minha mãe sempre é muito submissa, então ela sempre amplificou o que meu pai dizia, muito como uma forma de manter o casamento que ela conquistou.
No entanto a reação dela foi inesperada. Ela viu o vídeo da apresentação inteira (era menos de cinco minutos) e quando terminou ela estava em prantos, dizendo pra mim que não via a hora de eu deixar a depressão de lado e conquistar as coisas que eu devia conquistar na vida, pois aquele trabalho estava magnífico.
Nem pude acreditar nessa reação dela. Ela nunca me defendia do meu pai quando ele falava aquelas coisas. E me via me afundar na depressão com a alma e a autoestima estraçalhados como se eu merecesse isso por ter sido um filho mal-criado e não obedecê-lo.
As lágrimas da minha mãe colocaram uma pulga atrás da minha orelha: será que eu sou bom mesmo?
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