Horóscopo como uma arma de manipulação.


Quando eu era moleque, eu gostava muito de horóscopo. Eu lembro de uma vez na adolescência ter entrado num site onde fazia aqueles mapas astrais meio automáticos, e eu fiquei profundamente emocionado pois tudo estava ali. Lembro que até na época eu gostava de uma menina do signo de virgem, mas não era correspondido, e aí o horóscopo dizia que "virginianos e leoninos nunca vão ficar juntos". Isso me confortou. Mas o tempo passou, e eu comecei a ver muito mais coisa que não batia do que coisas que faziam sentido.

Eu lembro que nesse mapa dizia que leoninos eram muito populares, expansivos, e teatrais. Eu lembro que isso bateu muito com o que eu achava que eu era, mas quando eu via outros leoninos eles eram o exato oposto: sempre pessoas tímidas, retraídas, introspectivas. É até estranho eu comentar isso, pois hoje eu tenho mais do que certeza que minha personalidade é muito mais tímida e introspectiva do que achava que era — o problema é que eu fiz teatro, e aprendi a me comunicar minimamente.

Comecei a reparar nas pessoas, e via que nada do que elas eram de facto batiam com o signo do horóscopo. Mas elas insistiam que eram aquilo "por conta do seu signo". Talvez porque o próprio horóscopo faltava assertividade. Era sempre aquela coisa "você é tímido, mas gosta de ser o centro das atenções", ou "você é organizado, mas também tem momentos de bagunça", e então eu vi que aquilo tudo não fazia sentido algum. E então deixei de acreditar.

Hoje eu vejo várias pessoas acreditando em horóscopo — achando que uma estrela, a milhares de anos-luz, que talvez nem exista mais — pode influenciar em suas vidas. Ou, sei lá, se a pessoa é gulosa, culpar que é de touro. Como se apenas pessoas do signo de touro gostassem de comer. Ou pior: talvez a pessoa até tenha transtornos alimentares, mas acha que a posição do sol na eclíptica influencia seu paladar.

Surpresa: as constelações do zodíaco que percorrem a eclíptica não o fazem naquela data que está escrita na coluna do horóscopo no jornal. Horóscopo foi criado por um inglês, RH Naylor, na década de 1930, e ele usou os parâmetros antigos de Cláudio Ptolemeu (PtoLEmeu com "e", não PtoLOmeu do Alexandre).
 
Só que a Terra no espaço sofre influência em sua rotação tanto do sol, quanto da lua. E se passaram milênios desde os registros de Cláudio Ptolemeu, usados por RH Naylor: se no século I o sol estava em Libra entre 23/09 e 22/10, hoje sabemos que o sol passa por Libra na realidade entre os dias 1º e 23 de novembro. Isso sem contar que o Sol passa por Serpentário, trazendo um trigésimo-terceiro signo, o que faz menos sentido ainda.

Eu lembro de ter perguntado para uma amiga como ela faz as observações do céu para determinar os signos da pessoa, e fiquei abismado ao ver que não há nenhuma observação do céu de facto. E sim apenas cálculos baseados no Tetrabiblos de Cláudio Ptolemeu — que talvez ela nem saiba o que realmente foi essa obra.

Pra mim toda essa coisa de horóscopo foi feita para manipular as pessoas. Homens sempre quiseram exercer seu controle, e aí era fácil dizer que a mulher era infiel "por ser de gêmeos", ou ser fria "por ser capricórnio", ou ser braba "por ser de áries", quando esses traços de personalidade não tinham nada a ver com o suposto signo que lhe era atribuída. Eram apenas, como eu disse, traços de personalidade comuns como qualquer pessoa tem.

Ou ainda pior: fixar uma característica nelas, que elas acham que são, para manipulá-las de alguma forma. Eu ouvia umas coisas bem escrotas, por exemplo: "virginianas serem promíscuas sexualmente", e eu me perguntava: "Quem tu acha que é pra falar isso de alguém?". Eu sempre achei que havia muita maldade e machismo por trás da criação do horóscopo, e quanto mais o tempo vai passando, mais essa ideia tem ganhado força pra mim.

Olhar para o céu e ver as estrelas é algo tão mágico! Eu adoro fazer isso quando vou pra casa do meu avô no interior. Estudar os astros, galáxias, corpos celestes, buracos negros é algo tão fascinante! Posso dizer com certeza que ver uma foto de um buraco negro me influencia muito mais do que alguém dizer que sou de um jeito por conta do signo que eu nasci. Amar a ciência é ter essa paixão pelas descobertas!

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