Livros 2024 #13 - Annie John (1983)
O livro Annie John, de Jamaica Kincaid, é uma obra magnífica. Escrito ali todo em uma espécie de fluxo de pensamento, é um livro que embora seja pequeno no número de páginas, é gigante dentro de todo seu conteúdo. Contando a história de Annie, morando na ilha de Antígua, no Caribe, na sua infância pobre, uma relação difícil com sua mãe, e a descoberta de sua sexualidade sáfica em tenra idade. Uma obra completa, escrita por uma das maiores autoras negras do século XX.
Não se trata de um livro fácil. Eu mesmo voltava e lia duas, três vezes as partes até entender, mas isso é uma coisa bem pessoal (talvez me falte intelecto). Como eu disse anteriormente, Jamaica escreve no estilo de fluxo de pensamento, traçando um fio, que vai puxando outro — apresentando fatos da narrativa, e depois entrando em particularidades, complementando o sentido e deixando tudo aprofundado.
Escritoras que sabem fazer isso já possuem minha total admiração. O livro acaba ganhando uma grandiosidade que o número de páginas não condiz: Annie John é um livro para ler, e se reler, e ainda assim tem muita coisa ali que passaria, deixando lembranças bem pessoais em cada um que lesse.
Vinda de uma infância muito pobre, com a mãe dona de casa, e o pai um marceneiro de caixões, sua vida é protagonizada nessa fase das descobertas. Conhecendo sobre a morte antes que as pessoas de sua idade, Annie sempre parece tratar com naturalidade isso — afinal, é a profissão de seu pai.
Sua relação com a mãe é sempre baseada na necessidade de aprovação. Annie sempre tenta agradar a mãe, se esforçando para ser uma boa aluna, não causar problemas, e ser obediente. Mas logo cedo ela descobre que suas primeiras paixões na infância não são por homens, e sim por outras meninas, onde ela descobre sobre seu corpo, o que lhe traz prazer, e o quão feliz ela é junta de outras mulheres.
Curioso que, apesar dela ser uma ótima filha, e além de tudo ter esse amor incondicional pela mãe, conforme a mãe vai descobrindo sobre sua sexualidade isso se torna um motivo para que todo o resto seja descartado, e tudo o que a mãe sabe fazer é cair em prantos. Em muitas cenas do livro a mãe dela é mostrada chorando quando descobre sobre o lesbianismo da filha.
Uma das coisas mais bonitas é a relação amorosa que ela tem com Gwen. Todas as partes são repletas do descobrimento da importância dela em sua vida, onde ela vive aquela paixão de infância repleta de pureza, onde tudo o que ela quer é estar junto dela. Até o momento em que são separadas, e Annie tem que conviver com esse buraco que sua ausência a causou.
O ápice do livro pra mim foi o sétimo capítulo, onde Annie acaba adoecendo, e então é escrito um capítulo inteiro brincando com a realidade, com uma pegada bem imaginativa, cheia de alegorias e metáforas, é uma coisa de louco! Um capítulo que vale quase como um outro livro, cheio de possíveis significados e interpretações.
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