A casada buscando um caso no Tinder.


Esses dias me bateu uma carência, talvez pela aproximação do dia dos namorados e eu estar solteiro, e decidi reinstalar o Tinder. Faz uns dez anos desde que eu deletei minha conta de lá, e muita coisa aconteceu nesse dez anos. Um perfil em específico me chamou a atenção: numa rede de paquera a primeira palavra do perfil dela era "sou casada".

Não quero entrar aqui na questão da infidelidade no casamento. Todo mundo sabe que a retaliação contra uma mulher infiel nessa sociedade machista é muito maior do que sobre um homem — quando uma mulher trai ela é adjetivada com tudo quanto é nome, excluída da sociedade, fica mal falada, e tudo mais; já quando é um homem, mesmo quando assume sua infidelidade, o que mais tem são outros homens dando tapinha nas costas dizendo o clássico "essas coisas acontecem".

 

O que mais me chamou atenção no perfil da Letícia no Tinder foi o "Bolsonarista. Prefiro não perder tempo com gente muito fora desse espectro de crenças e valores".

Não tem nada que identifique mais um bolsonarista do que contradições. É o cristão que mesmo Jesus sendo torturado cruelmente, ainda assim é favor de tortura. É a violência, é a dominação, a mentira. Enquanto da boca pra fora diz ser a favor da família e dos costumes tradicionais. Talvez esqueçam de que atos falam muito mais alto que palavras, e todas essas declarações são apenas da boca pra fora, pois todo mundo vê que na prática eles são exatamente o oposto do que falam.

Mas quando parei pra ler o perfil da Letícia, fiquei pensando no quanto essa mulher sofra por ter essa contradição dentro dela. Talvez ela apenas não esteja feliz no casamento — seja pois foi forçada a se casar, ou simplesmente o tempo passou mesmo e ela não conseguiu aproveitar enquanto era solteira — mas ela tem essa necessidade de ter um caso fora dele.

Vendo as fotos ela é uma moça muito bonita, e obviamente pelo medo de ser reconhecida, em todas as fotos ela esconde seu rosto. Obviamente ela sabe o tipo de coisa que aconteceria caso ela fosse reconhecida, a gente sabe como o machismo impera na sociedade. Ela tem o direito de conhecer outros caras, de terminar relacionamentos que não deram certos, e de sentir tesão por outros homens. 

O que a impede é o fato de ser direita-extremista: ela exalta qualidades tradicionais como monogamia, casamento, fidelidade, crença, valores, mesmo que exista algo dentro dela gritando para que ela saia dali, para que viva outras paixões, um amor livre, poliamor, e por aí vai.

Dentro da perspectiva desse povo que faz arminha com a mão reina a hipocrisia: valores tradicionais são para os outros, mesmo que eles não vivam de acordo com esses valores. São esse tipo de pessoas que apontam o dedo para os outros dizendo que eles não apoiam a família tradicional, não são cristãos, não possuem valores tradicionais, quando na vida real são como a Letícia do Tinder: é apenas uma mulher jovem, que quer viver sua sexualidade de maneira plena e livre, se envolvendo com homens que ela quiser, e ser feliz desse jeito que a faz feliz.

E ela ter essa característica não a faz inferior, ou digna de crítica e retaliação — é apenas parte do seu jeito de ser. Ninguém é obrigado a ficar com ela, podem viver alguns meses ou poucos anos com ela, mas pode ser uma história de amor da vida.

Pois essa é a qualidade de sua alma livre, provavelmente é uma mulher que não nasceu para casar, e sim para viver uma vida com vários amores e fazer assim muitos homens felizes. Talvez se casou por pressão, ou achava naquele momento que só iria gostar de um único homem por toda sua vida, mas vive engessada dizendo que são os outros que devem seguir as regras, e não ela.

Uma pena que existam esse tipo de pessoas que mentem para si mesmas. Deve ser uma existência vazia.

E para concluir, entrando numa questão pessoal, talvez muitos homens chegariam aqui dizendo que eu não ligo pro marido corno, pois eu sou um um corno manso. Primeiro que nenhuma mulher que aceitasse entrar num relacionamento comigo seria minha propriedade. Confiança tem como base liberdade, e liberdade é ser livre dentro de regras em comum acordo.

Eu nunca escondi aqui que eu nunca tive uma namorada. Mas muitas vezes me questionava como eu lidaria com meu ciúmes quando enfim conseguisse uma. E depois de muitos anos, muita meditação e reflexão sobre o assunto, eu acredito no seguinte: minha companheira é complemente livre para me trair, a minha única exigência é que eu não quero saber. Pois é óbvio se eu descobrir a gente termina, e cada um vai para o seu lado, vida que segue. E o contrário também é válido. Simples assim.

Ser homem infelizmente é ter privilégios mil. E até nisso eu tenho vantagem, pois mulheres quando traem sabem esconder muito melhor.

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