Que se chama "ser" e "estar".



Eu me senti velho há sete anos atrás. Pensei comigo mesmo: olha só, estamos em 2015! Significa que se alguém entrou na primeira série em 2005 — o ano em que terminei o ensino médio — hoje essa pessoa estaria também terminando o ensino médio! Isso até esses dias eu ver que no diário de classe da minha mãe, a molecada que hoje está no terceiro ano do ensino médio nasceu ali em 2003-2004. Ano que vem as crianças que vieram ao mundo no ano em que eu terminei o ensino médio estarão terminando o mesmo curso!

Foi muito curioso esse tipo de pensamento vir na minha cabeça nessa semana. Agora há pouco eu estava vendo o Facebook, e vi aquele menu com memórias, o famoso "Neste dia há (tantos) anos...". E ali me apareceu uma foto que foi postada há dez anos, mas que na verdade foi batida há quase dezessete.

Naquele dia o Denis havia comprado a famosa TekPix. Aquela câmera que fazia muita coisa, mas fazia todas essas coisas muito mal. Mas nos juntamos e tiramos uma foto. Era uma foto péssima, de míseros 600 x 500 pixels, comparados com um iPhone atual que tira umas fotos com cinco vezes mais resolução.

Mas ela registrou! Estávamos (no sentido horário, começando por mim no topo) eu, Denis, Daisy, Cinthia e a Bia. Ali logo atrás era a escada que levava para as salas de aula no primeiro andar, e o cartaz atrás de mim falava do evento de final de ano: o baile de formatura, que foi realizado no dia 17 de dezembro de 2005, no Esporte Clube Banespa.

Curioso que isso me leva ao inicio desse blog! Em uma das postagens mais antigas, importadas do tempo que esse blog estava ainda na Weblogger do Terra, tá tudo lá. E eu lembrei o porquê de eu ter criado isso aqui.

Eu sempre tive muito problema com solidão. Um dos dias que eu mais sofria na minha escola antiga era quando o primeiro dia de aula se aproximava, e eles fixavam a lista de alunos na parede da escola, e cada um sabia em que sala iria parar.

Não sei qual era o meu problema, mas acho que o maior tempo que eu fiquei na mesma sala, com os mesmos amigos, foram acho que três anos. Na primeira série fiz numa escola (onde inclusive prestei o Enem no começo do ano), depois mudei de escola. Fiquei nessa segunda escola por sete anos. Na segunda série fiz de manhã e na terceira minha mãe me mudou para o período da tarde, onde caí, pelo terceiro ano consecutivo, em uma sala onde de novo não conhecia ninguém.

Pelo menos da terceira série até a sexta fiquei na mesma sala com os mesmos amigos. Mas na sétima série eu não sei o que aconteceu, mas me tiraram da sala onde estava e me colocaram em uma em que eu não conhecia ninguém. Talvez fosse o único aluno nerd de uma sala fraca para ficar na sala dos outros inteligentes: saí da sexta série H para a sétima séria A.

Apesar do começo difícil fiz grandes amizades, entre elas o Guilherme, que é um dos poucos amigos que estudaram comigo que ainda tenho contato. Mas no primeiro ano do ensino médio me colocaram de manhã e de novo a solidão e os laços de amizade quebrados.

(um aviso para a molecada de hoje em dia: naquele tempo até tinha internet, mas era péssima, e quase ninguém tinha. Era o tempo em que falávamos pelo telefone ainda)

Mas a pior sensação de solidão que passei foi quando fui para o segundo ano do ensino médio. Era uma escola totalmente diferente, onde eu não conhecia absolutamente ninguém. Eu lembro que eu chegava a ponto de chorar no meio da aula por estar num lugar que eu não conhecia, apesar de ser um colégio forte com ótimo ensino. Todo o mundo que eu conhecia estava do outro lado, e só eu estava lá. Nenhum aluno nem mesmo conhecia a escola que eu havia estudado. E ela ficava a pouco mais de um fucking quilômetro de distância apenas.

No entanto a vida é dessas loucuras. Acho que juntou toda a fase marcante e cheias de emoções da adolescência, as primeiras paqueras com as garotas, os calorosos debates, o tempo que passamos juntos, as pessoas que conhecemos. E as amizades que jurávamos que seriam para sempre.

Talvez até tinha contato com um número considerável de colegas na época do finado Orkut. Mas depois que o Facebook apareceu, acabei perdendo os poucos que ainda tinha.

A foto no entanto continua aí. Quase como um fóssil, um registro gravado. As luzes que refletiam nos objetos ao nosso redor e eram captados pelo sensor de fótons, traduzindo aquilo tudo em 600 pixels de largura por 500 de altura. Pontinhos agrupados que, por meio de nossa cognição, conseguimos reconhecer tais rostos. 

Daqueles jovens todos iriam partir para caminhos totalmente diferentes a partir dali. Estaria cada um por si, ninguém faria faculdade junto. E eu, para driblar essa solidão, e esse passo definitivo para a vida adulta, resolvi criar um blog naquele momento sem volta. Um diário pra mim mesmo, sabe? Pois no fundo eu sempre estive sozinho, mesmo cercado de gente eventualmente.

Pois para mim, eu sabia que nunca podia criar laços fortes com meus amigos, pois sempre algo aconteceria no ano escolar seguinte, como uma mudança de sala e eu ter que fazer amizades novas do zero, entendia o quão fugaz são as pessoas que passam pela nossa vida. Foi um trauma imenso e moldou muito meu caráter e minha relação com as pessoas pelo resto da minha vida. Todas as pessoas que conheci deixaram marcas, umas mais ou outras menos, mas eu nunca soube como é alguém que "fica para sempre". Não sei se é minha sina, mas é como eu sempre vi o mundo. 

Que todo mundo apenas "está" temporariamente na minha vida. E que ninguém nunca vai sempre "ser" para sempre algo comigo.

Soa bastante egoísta, mas nossa infeliz visão de mundo é sempre limitada pela quantidade de experiências que tivemos. E as experiências que eu tive são sempre assim: que estou constantemente dentro de um trem, que encontro pessoas dentro, algumas partilham o mesmo caminho por um tempo, outras pegam outros trens, mas tudo parece estar em um constante movimento.

Onde a única certeza é: inevitavelmente eu estarei sempre sozinho.

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